Título: Varig abre negociação com maiores credores
Autor: Cláudia Schüffner e Raquel Balarin
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2005, Empresas &, p. B2

Aviação Companhia quer discutir críticas ao plano de recuperação, como divisão de leasing e Aerus em classes

Quatro dias depois do anúncio do seu plano de recuperação judicial, a Varig tenta uma nova ofensiva com os credores para saber a avaliação deles sobre a proposta. Na segunda-feira, dirigentes da companhia irão se reunir com os grandes credores para entender as críticas ao plano. Uma delas é o descontentamento das empresas de leasing com a divisão de credores em classes. O fundo de pensão Aerus foi colocado isoladamente em uma classe e, caso a Varig saia vitoriosa em ação judicial contra o governo, receberá o crédito integralmente. Os demais estão sujeitos a um desconto. Os administradores da Varig têm uma tarefa hercúlea pela frente, que é tentar convencer os maiores credores, incluindo algumas estatais como a Infraero e a BR Distribuidora, e companhias de leasing a trocar a dívida por participação acionária em uma nova companhia a ser criada. Esta "nova Varig" não herdaria os passivos tributário e previdenciário, calculados em R$ 4,5 bilhões. O advogado Daltro Borges, do escritório Sérgio Bermudes, que defende a Varig, explicou que além do conflito entre a companhia aérea e os credores, existe um conflito dos credores entre si, já que alguns têm garantias para recebimento das dívidas e outros, não. Além das contingências trabalhistas, o maior credor individual das três empresas do grupo - Varig, Rio Sul e Nordeste - é o Instituto Aerus de Seguridade Social, que tem a receber R$ 1,814 bilhão. Desse total, R$ 1,059 bilhão referem-se a empréstimos do Aerus à companhia e R$ 755 milhões ao déficit atuarial do fundo de pensão. A dívida com o Aerus é 100% garantida. Os demais credores estão separados entre aqueles que têm garantia real (classe 2 da nova lei de Recuperação Judicial) - formado em sua maioria por empresas de "leasing" de aeronaves e motores (lessors) - e aqueles sem garantia (classe 3 da nova lei ). Aos credores garantidos a Varig deve R$ 888,66 milhões e desses, apenas R$ 256,78 milhões receberam garantias reais. Nessa classe está a Boeing Capital Corporation, que tem a receber R$ 137,17 milhões dos quais R$ 26,9 milhões garantidos. Em seguida aparecem as empresas da General Electric. A Varig deve R$ 142,49 milhões à GE Engines Services Incorporation, mas, dessa dívida, apenas R$ 3,58 milhões têm garantias. Outra credora é a GE Capital Aviation Services (GE CAS) que tem a receber R$ 131 milhões, dos quais apenas R$ 3,4 milhões estão garantidos. Advogados que representam credores disseram que as empresas de leasing ainda estão analisando o plano de recuperação e que, até hoje, conhecem um único caso em que essas companhias concordaram transformar seus créditos em participação acionária. Ainda assim, em uma renegociação privada. Um caso público como o da Varig dificulta o processo porque pode servir de parâmetro para outras companhias aéreas. "E várias delas seguem em crise no mundo. Basta ver os exemplos desta semana da Delta e da Northwest", explica um advogado. As empresas de leasing são as que estão dando as maiores dores de cabeça aos representantes da Varig porque podem partir para a retomada das aeronaves em processos judiciais no exterior - ainda que isso não seja permitido no Brasil por causa da nova lei de recuperação judicial. Mas há outros grandes credores que preocupam. Na lista dos que não têm garantia estão desde as gigantes japonesas Nissho Iwai e Mitsui até a Infraero, a BR Distribuidora (da Petrobras), Shell e o Banco Santos, que está em liquidação judicial. A Varig deve à massa falida do Banco Santos R$ 4,27 milhões. Também constam a Editora Abril (R$ 2,28 milhões) e "O Estado de S. Paulo" (R$ 2,20 milhões). Os credores têm até o dia 22 de novembro para deliberar, em assembléia, sobre o plano de recuperação. Para os credores trabalhistas, a Varig prevê escalonar o pagamento até junho de 2006. Para os credores com garantia real e sem garantia a proposta é de reservar R$ 100 milhões e realizar o pagamento pelo valor de face, sem juro. Com isso, espera-se que sejam eliminados 95% dos credores. A negociação com os demais 5%, que têm créditos de R$ 1,9 bilhão, será decisiva para o futuro da empresa.