Título: Vale faz oferta pelo controle da Canico
Autor: Vera Saavedra Durão e Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2005, Empresas &, p. B7

Níquel Mineradora propõe mais de US$ 600 milhões pela canadense, que tem um projeto perto de Carajás

A Vale do Rio Doce quer se transformar na maior produtora de níquel do país. Ontem, a empresa fez um movimento estratégico ao anunciar uma oferta de compra da companhia canadense Canico Resource equivalente a pouco mais de US$ 600 milhões por 100% das ações. O único ativo da Canico é um ambicioso projeto de produção de níquel na região sul do Pará em fase de desenvolvimento. A mineradora brasileira, líder nos mercados nacional e internacional de minério de ferro, tem planos de ser grande também em metais não ferrosos: no seu alvo estão cobre e níquel. A Vale já tem avançado seu próprio projeto, denominado Vermelho, também no Pará, orçado em US$ 1,2 bilhão. A empresa pretende começar a produção de 46 mil toneladas de níquel metálico em 2008. O projeto da Canico, operado pela subsidiária Mineração Onça Puma, tem porte semelhante: total de US$ 1,25 bilhão em duas fases, para fabricação de ferro-níquel, insumo usado na indústria de aço inox, entre outras aplicações. A primeira fase, orçada em US$ 750 milhões, prevê início de produção de 34 mil toneladas no fim de 2007. Outras 26 mil toneladas poderiam ser agregadas em 2010. A mina da Canico fica em Ourilândia do Norte, ao sul da grande mina de ferro de Carajás, a 120 km da jazida de níquel da Vale. São separadas pela reserva dos índios Xikrin. A junção das duas operações parece trazer expressivos ganhos de sinergias para a Vale, que pode ainda escoar a produção através de sua ferrovia, desde Carajás ao porto de Itaqui, em São Luís (MA). Mas a ofensiva da mineradora, que em 2004 analisou a compra da também canadense Noranda, hoje renomeada Falconbridge, pode não ser nada fácil e encontrar resistências. O presidente da Canico, Michael Kenyon, que representa um grupo de acionistas detentores de 10,6% da empresa, afirmou ontem no decorrer do dia que a proposta da Vale era "oportunista" e se configurava uma "compra hostil". Ele disse aguardar uma proposta formal. O bloco de controladores detém 44% do capital total da Canico, sediada em Vancouver, na costa oeste do Canadá. A Vale se propôs a pagar 17,50 dólares canadenses por ação da empresa, o que equivale a um prêmio de 29% em relação à cotação média dos papéis nos últimos 30 dias. Porém esse preço é considerado abaixo de avaliações desses acionistas. Na bolsa de Toronto, no fim do dia as ações da Canico eram negociadas a 19,75 dólares canadenses, com alta de 34% no dia. Isso sinaliza que a Vale terá de elevar sua oferta. A proposta da Vale, conforme seu comunicado, está sujeita à adesão de acionistas que representem pelo menos 50% mais uma das ações ordinárias da Canico e o prazo previsto é de 60 dias após o envio da oferta formal por correio. Segundo Kenyon, em notícia da Reuters, outras companhias estão interessadas na Canico e já firmaram com ela acordos de confidencialidade. A Vale informa que firmou esse mesmo tipo de acordo com a canadense. A empresa classifica sua proposta de "oferta permitida" (amigável). Eike Batista, CEO da EBX e segundo maior acionista independente da Canico, com 12% das ações, disse ao Valor que "não é vendedor" nesse negócio. Para ele, "a Vale seria um excelente sócio" no projeto que a Canico vem tocando no Pará. Batista considerou o preço proposto pela Vale baixo, pois o mercado, ontem, negociava os papéis acima de 19 dólares canadenses. "O mercado está dizendo que esta proposta está baixa." O empresário relatou que estimulou o interesse da Vale na Canico, devido às sinergias de Onça Puma com a jazida do Vermelho. Em março do ano passado, informou, fez uma exposição do projeto para executivos da Vale - o presidente Roger Agnelli e Fábio Barbosa, diretor financeiro, no escritório da mineradora, em Nova York. Batista relatou ainda que o estudo de viabilidade final de Onça Puma surpreendeu, pois revelou uma reserva de níquel 50% maior do que os 100 milhões de toneladas projetadas inicialmente e ao seu ver a Vale seria a melhor operadora para este projeto. O analista de mineração do Banco Brascan, Luiz Caetano, informa que a Vale gastará no negócio US$ 612 milhões, sem contar opções e warrants. A seu ver, é positivo para a Vale continuar seu processo de diversificação - o minério de ferro representa hoje 67% da receita consolidada da empresa. Desde que foi formada, em 2002, a Canico investiu cerca de US$ 60 milhões no projeto Onça Puma. Júlio Carvalho, presidente da Onça Puma, diz acreditar que a direção da empresa oriente os acionistas minoritários a não se desfazerem dos papéis. O principal argumento é o potencial de geração de caixa quando a jazida estiver em operação. O estudo de viabilidade econômica estima, para 2008, custo-caixa de US$ 3,76 mil por tonelada, para um preço no mercado de US$ 8,26 mil. "É como um apartamento na planta, em que não há nada construído, mas que vai se valorizar muito quando estiver concluído", compara.