Título: Apetite americano estimula produção de tilápia no país
Autor: Conrado Loiola
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2005, Agronegócios, p. B12

Pescados Exportação para os EUA cresceu 300% no primeiro semestre

Atividade que pode ser considerada ainda em fase inicial no país, a produção de tilápia em escala comercial começa a mostrar que pode se consolidar como um negócio rentável para os criadores. Apesar do tímido consumo doméstico e de deficiências estruturais ao longo da cadeia produtiva, o aumento da demanda nos Estados Unidos, maiores importadores mundiais, tem alavancado volume e preços das exportações brasileiras, principalmente no caso do filé fresco. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), os americanos importaram do Brasil 468 toneladas de filés frescos de tilápia no primeiro semestre deste ano, ou US$ 2,38 milhões. No mesmo período de 2004, foram 130 toneladas, ou US$ 594 mil. Na mesma comparação, os preços médios por quilo do filé subiram de US$ 4,60 para US$ 5,10. A Associação Brasileira das Indústrias de Processamento de Tilápia (AB-Tilápia) espera que as exportações brasileiras mantenham o ritmo e fechem o ano em torno de US$ 5 milhões. Segundo a associação, apesar do expressivo aumento o volume exportado ainda é pequeno em relação a outros países produtores - o Equador, por exemplo, exportou 5,4 mil toneladas de filé fresco aos EUA entre janeiro e junho de 2005. No caso dos filés congelados, menos apreciado que os frescos, a diferença é ainda maior. Segundo Tito Capobianco Jr., presidente da AB-Tilápia e diretor da empresa de processamento de pescados Geneseas (que exporta 80% de sua produção), os países asiáticos, maiores exportadores de filé congelado, obtêm vantagens nos preços por produzirem em larga escala. Segundo Guilherme Crispim, coordenador de Comercialização da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap), o consumo de tilápia cresce nos EUA em virtude de uma forte campanha interna de promoção do consumo de pescados, normalmente pouco gordurosos. Além disso, acrescenta, o avanço tecnológico no processo de criação hoje permite que os filés se mantenham frescos por mais tempo, não tenham espinhas e fiquem com tamanhos padronizados, atraindo mais consumidores. Para Capobianco, o filé de tilápia tem boa aceitação no exterior também por não ter "gosto forte" de peixe. O produto pode ser uma opção para "primos" como linguado, robalo e pescada, vendidos por preços semelhantes. Capobianco diz que o aumento do consumo externo deve levar a produção brasileira de tilápias a 100 mil toneladas em 2005, ante 70 mil em 2004. Mas segundo Jorge Souza, diretor da Mar & Terra, empresa de engorda e processamento de peixes localizada em Itaporã (MS), a rentabilidade poderia ser melhor não fosse o real apreciado em relação ao dólar. E mesmo os embarques poderiam crescer em ritmo mais acelerado caso a oferta interna nos EUA também não tivesse crescido. Apesar de destinar cerca de 60% de sua produção mensal de 15 toneladas ao mês de filés de tilápia e outros peixes ao mercado externo, Souza acredita que o consumo interno também tende a crescer. A explicação comum entre os produtores é que o peixe só não avança mais no mercado brasileiro por ser "caro" (de R$ 12 a R$ 17 por quilo) e por enfrentar a concorrência de produtos mais baratos como o filé de merluza e outros pescados importados da Argentina, além da concorrência natural com carnes de outras origens. Em locais do Brasil e em algumas cargas para exportação, o peixe é comercializado com o nome Saint-Peter (ou Saint-Pierre) como estratégia de marketing para driblar a fama de peixe "comum" que acompanha a tilápia. Segundo Crispim, da Seap, os preços considerados elevados estão ligados ao beneficiamento do produto final. "Os subprodutos da tilápia não são aproveitados e todos os custos de produção têm de ser pagos pelo filé. Mas já há algumas indústrias no país mais avançadas que aproveitam o couro, os espinhos e a cabeça do peixe".