Título: Instituições procuram saídas à má-formação
Autor: Felipe Frisch
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2005, Legislação & Tributos, p. E1

O maior problema da qualidade das faculdades de direito é também o mais difícil de mudar: a grade curricular. Como fazer um curso jurídico sem as infinitas cadeiras de direito civil, penal, comercial e processuais? Por conta da falta de resposta, mudanças bruscas são difíceis de ser pensadas e nem são alvos da proposta do grupo capitaneado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). No entanto, algumas idéias estão sendo colocadas em prática nas instituições privadas. Trata-se de estratégias para sobreviver à enxurrada de cursos que acabam competindo com argumentos comerciais - como o preço da mensalidade - e fazem muitas universidades caírem no vácuo das "vendedoras de diplomas". Uma dessas propostas está sendo colocada em prática pela Direito GV, a escola jurídica da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que começou a funcionar neste ano. "O ensino jurídico brasileiro e latino-americano se especializou em produzir profissionais parecidos, que se limitam à interpretação das normas em casos concretos", diz o coordenador de metodologia de ensino da Direito GV, Conrado Hübner. O projeto da instituição é criar elaboradores de políticas públicas, que "resolvam problemas", mesmo que o projeto individual do aluno não seja fazer parte de instituições governamentais. Para o professor, o modelo atual de ensino jurídico praticado pela maioria das escolas é muito frágil e fica obsoleto rapidamente. "Se o Código Civil tem dois mil artigos e, por isso, o curso leva cinco anos, daqui a pouco a faculdade vai ter 15 anos, pois a preocupação é com a habilidade de memória", diz. Para o vice-diretor da faculdade de direito da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Marcos Vinícius de Campos, a chave da má-formação nos cursos de direito está nas deficiências que os alunos levam do ensino médio. "Nos dois primeiros anos da faculdade, ficamos aprofundando o ensino básico, estimulando a leitura", diz. Dificultar o ingresso nos cursos, no entanto, não é solução. "O mercado vai resolver isso, mas até lá vai drenar dinheiro dos alunos direto para os donos das faculdades." (FF)