Título: Kerry aceita derrota e evita novo impasse
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2004, Internacional, p. A-8
O senador John Kerry, candidato democrata na eleição presidencial de terça-feira, admitiu ontem à tarde a derrota para o presidente republicano George W. Bush. A partir de então, a eleição americana estava definida, apesar de ainda faltar a apuração total em três Estados - Novo México, Iowa e Ohio. Até o discurso, Kerry não tinha se manifestado, mas o candidato a vice, senador John Edwards, e outros democratas insistiam em esperar até a contagem do último voto em Ohio. O Estado tem 20 votos no Colégio Eleitoral (de um total de 538), e durante todo o dia de ontem estava claro que quem vencesse em Ohio seria o vitorioso, já que Iowa e Novo México têm peso menor no total - respectivamente, 7 e 5 votos. Mas aos poucos ficou claro que a distância entre os dois candidatos, a favor de Bush, era muito grande e uma virada era estatisticamente inviável. Bush tinha 130 mil votos a mais que Kerry e ainda faltava a apuração de apenas 150 mil células de votos "provisórios" - em que a qualificação do eleitor para participar da eleição deve ser confirmada - e um pequeno número de votos enviados pelo correio. Dirigindo-se a todo o país, em Boston, Kerry disse que já havia falado com Bush e a primeira-dama, Laura Bush, por telefone e lhes dado os parabéns pela vitória. Estava emocionado e manteve um tom conciliador, ainda que acenando a seus partidários com a perspectiva de que "outras votações venham a mudar o mundo" de uma forma "pela qual valha a pena lutar". Ficou assim descartada a perspectiva de um longo processo de recursos legais, com possíveis recontagens intermináveis de votos, como o que aconteceu em 2000, quando os americanos só ficaram sabendo quem seria seu próximo presidente cinco semanas depois das eleições. Na eleição desta semana, considerando-se os 20 votos de Ohio, Bush ficou com 274 votos - quatro a mais do que o número necessário para vencer a disputa - e Kerry, com 252. Ainda faltava a definição dos 12 votos de Iowa e Novo México para completar o Colégio Eleitoral, de 538 votos. Mas houve muito suspense. De madrugada, o chefe da Casa Civil, Andrew Card, já havia dito a partidários de Bush que o presidente tinha "uma vantagem estatisticamente insuperável" em Ohio e também havia ganho a maioria do voto popular. A tensão se aprofundou durante o dia, quando a votação parecia definida, mas os democratas não admitiam a derrota. Temia-se uma indefinição prolongada sobre o resultado, como há quatro anos. Ao contrário de então, porém, o presidente foi reeleito não apenas com a maioria dos votos do Colégio Eleitoral, mas também dos votos populares: cerca de 51%, contra 48% de Kerry, com 99% dos votos apurados. Menos de uma hora depois de Kerry ter admitido a derrota, Bush fez o discurso da vitória. Falando a milhares de partidários em Washington, disse que um novo mandato "é uma oportunidade para ganhar o apoio e confiança" dos mais de 50 milhões que votaram no candidato democrata. Kerry fez uma boa campanha e "pode, com seus partidários, se orgulhar de seus esforços", acrescentou. O vice-presidente Dick Cheney afirmou que a vitória representa um mandato para as políticas de Bush. Mas não deu mais detalhes. O comparecimento às urnas foi de quase 60% dos eleitores registrados - cerca de 120 milhões de pessoas -, a maior percentagem desde 1968, segundo dados da Comissão para o Estudo do Eleitorado Americano.