Título: Brasil felicita Bush e pede solidariedade e respeito
Autor: Chico Santos e Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2004, Internacional, p. A-11

"Solidariedade e respeito". Foi como o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, respondeu ontem a uma pergunta sobre o que o Brasil e a América Latina gostariam de ter da parte dos EUA no segundo mandato do presidente George W. Bush, reeleito anteontem. Amorim ressalvou que a sua resposta não significava que as duas coisas tivessem deixado de existir no primeiro governo Bush. Amorim falou sobre o desfecho do pleito americano antes de saber se o governo brasileiro já havia enviado ou não mensagem de congratulações a Bush. Ele disse que, como os EUA são "um grande país que tende a ser seguido por outros, é muito importante que tenha havido um processo democrático e uma vitória clara e insofismável". Amorim disse que a vitória de Bush permitirá a continuidade de um bom relacionamento entre Brasil e EUA. "As relações de trabalho do governo brasileiro com o governo do presidente Bush têm sido muito eficientes e cordiais, não só a nível presidencial como a nível de ministros de relações exteriores". Ele destacou os vários encontros entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Bush, especialmente o realizado em junho do ano passado, em Washington. "Foi um longo encontro, como raras vezes houve, um encontro de três horas, quase uma reunião conjunta de gabinete, no qual foram criados muitos grupos de cooperação." O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou ontem mensagem de "felicitações calorosas" ao presidente reeleito dos EUA, George W. Bush. No texto, em que não contém o entusiasmo - o que denota a torcida que o governo brasileiro realmente fazia pela vitória do atual presidente -, Lula ressaltou que as relações entre Brasil e EUA vêm se desenvolvendo de "modo notável". O presidente brasileiro reforçou a expectativa de que os "laços de amizade" entre os dois países serão aprofundados com o resultado da eleição americana. "O vívido e fluido diálogo entre nossos países tem produzido resultados benéficos não apenas no plano bilateral, mas também no positivo encaminhamento de numerosas questões internacionais de importância para nossos povos", destacou Lula na mensagem. Nos debates internos do governo, os dois mais importantes ministros - José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda) - avaliaram que a eleição de Bush seria melhor para o Brasil. Temiam que uma vitória do candidato democrata John Kerry poderia provocar uma onda protecionista, prejudicial às negociações para a expansão do comércio com os EUA. As relações entre Bush e Lula foram boas desde que o presidente brasileiro assumiu o poder. Lula foi convidado a visitar Washington antes mesmo de sua posse em 2003, o que foi visto como sinal de prestígio. Desde então, uma relação pessoal foi mantida entre os dois presidentes. Em meados de 2003, novamente a convite de Bush, Lula visitou Washington, acompanhado de metade de seu ministério, para participar da primeira grande reunião de cúpula. O presidente brasileiro fez questão de dizer que a vitória de Bush foi expressiva e observou que os dois países continuarão a contribuir para "o avanço de aspirações comuns no plano mundial, de modo a superar a pobreza, a insegurança e as outras causas de desequilíbrio e instabilidade, no quadro de uma ordem mundial mais justa e democrática."