Título: América do Sul fica com parcela pequena da carteira do BNDES
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2005, Brasil, p. A4

Investimentos Desembolsos para infra-estrutura na região devem somar cerca de R$ 1 bilhão em 2005

A carteira de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para projetos de infra-estrutura em outros países da América do Sul soma atualmente US$ 1,064 bilhão, o equivalente a R$ 2,44 bilhões pelo câmbio da última quinta-feira. Neste ano, o desembolso para projetos na região deve ficar entre US$ 350 milhões e US$ 400 milhões (cerca de R$ 1,0 bilhão) Os valores são bem inferiores aos desembolsos para projetos de infra-estrutura no país. De janeiro a agosto deste ano, o banco liberou R$ 10,66 bilhões para este segmento no mercado doméstico, valor 12% maior que no mesmo período do ano passado. Nos primeiros oito meses do ano, o banco aprovou R$ 11,9 bilhões em novos financiamentos para projetos brasileiros de infra-estrutura. Embora os executivos da instituição prefiram não polemizar sobre um assunto que é prioridade absoluta do atual governo - recentemente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer que o BNDES está fazendo pela integração do continente sul-americano, com sua política de financiamentos, o que Simon Bolívar tentou fazer com a espada -, a posição do banco é que os números demonstram que não fazem sentido as críticas, segundo as quais o banco estatal estaria descuidando de financiar a reconhecidamente combalida infra-estrutura brasileira para atender as demandas dos países vizinhos. "Todo esforço para exportar obras, bens e serviços brasileiros tem o nosso apoio. Não concordamos é que o banco financie empreendimentos fora do país sem a participação da indústria nacional", ponderou o vice-presidente-executivo da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e da Indústria de Base (Abdib), Ralph Lima Terra. De acordo com as informações do BNDES, essa preocupação faz parte das normas do banco para financiamentos a obras no exterior. Os empréstimos, segundo a direção do banco, são totalmente vinculados ao pagamento da compra de bens e serviços brasileiros. Dos contratos em vigor na carteira do banco, alguns, como a ampliação da linha 4 do metrô de Caracas (Venezuela) e a construção da rodovia Rota 10, no Paraguai, foram assinados no governo passado. A Rota 10 já está pronta e inaugurada, conforme informou a empreiteira ARG, responsável pela obra. O financiamento do BNDES foi de US$ 77 milhões. Ao todo, são nove contratos, distribuídos por Argentina, Chile, Equador, Paraguai e Venezuela. Há contratos em perspectiva com o Peru, a Colômbia e a Bolívia. Terra disse que a Abdib luta para que a as empresas brasileiras de infra-estrutura e da indústria de base possam competir fora do Brasil. "O aspecto de financiamento é um dos mais importantes nesse esforço", disse o executivo, ressaltando que o BNDES é praticamente a única fonte de financiamento de longo prazo do país. Quanto aos financiamentos domésticos, o vice-presidente da Abdib disse que o limitador não está na disponibilidade de recursos do banco estatal, mas nos problemas regulatórios que ainda emperram os investimentos. Pelos cálculos da entidade, para vencer o seu reconhecido gargalo infra-estrutural, o Brasil precisa investir US$ 22,7 bilhões por ano, nos próximos dez anos. No ano passado, os investimentos ficaram na casa dos US$ 12 bilhões, quase a metade do número considerado ideal. A Abdib começou este ano trabalhando com um aumento de 20% nos investimentos, que saltariam para cerca de US$ 15 bilhões. Agora, Terra já considera que uma expectativa de crescer 15% em 2005 está muito mais próxima da realidade. No próximo dia 3 de outubro, a direção da entidade empresarial fará uma reunião com o presidente do BNDES, Guido Mantega, para avaliar o que foi feito este ano no setor de financiamentos à infra-estrutura e as perspectivas para o restante do ano e para os próximos anos. As melhores possibilidades, segundo Terra, estão em que se consiga, finalmente, fazer o primeiro leilão de energia elétrica nova (marcado para dezembro), resultando na contratação de usinas, e nas oito licitações rodoviárias previstas, após quase dois anos sem novas contratações. Quanto ao setor de saneamento, a falta de um marco regulatório deve prosseguir segurando os investimentos. Terra disse que o setor ferroviário também está investindo "muito abaixo do que seria necessário". Ele ressaltou como positivos, por enquanto, apenas o desempenho dos setores de insumos básicos, como siderurgia, mineração e papel e celulose, estimulados pela demanda aquecida no mercado internacional. Apesar das preocupações do vice-presidente da Abdib, as consultas por novos financiamentos do BNDES para os setores de infra-estrutura atingiram, de janeiro a agosto deste ano, R$ 17 bilhões, sendo R$ 7,1 bilhões para energia elétrica, R$ 4,5 bilhões para transportes terrestres e R$ 2,7 bilhões para construção (obras civis infra-estruturais). Entre os projetos já aprovados, a energia elétrica está em segundo lugar, com R$ 3,55 bilhões, perdendo para os R$ 4,3 bilhões dos transportes terrestres, entre os quais se destaca o transporte rodoviário de cargas (basicamente, financiamento à compra de caminhões), com R$ 2,8 bilhões. Segundo Terra, o bom desempenho na área de energia elétrica está localizado nas áreas de transmissão e distribuição. Já a geração, que concentra as obras de maior vulto, ainda depende do sucesso do novo modelo para o setor de energia, que será testado no leilão de dezembro.