Título: CPI dos Correios muda o foco e investiga tráfico de influência
Autor: Maria Lúcia Delgado e Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2005, Política, p. A5

Diante de uma profusão de provas, evidências e indícios, está clarou para a CPI Mista dos Correios que o esquema que originou o escândalo do 'mensalão 'não se restringe a caixa 2, mas trata-se, sobretudo, de tráfico de influência. A linha é bem diferente do início da CPI. "Tudo indica, pelas movimentações financeiras investigadas pela CPI até agora, que perde força a tese de que os empréstimos de Valério foram feitos apenas para viabilizar caixa 2 de partidos", afirmou o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS). Fruet reconhece que a CPI deu ênfase exagerada às investigações de esquemas de caixa 2. "Não é isso. Trata-se de tráfico de influência que pode ter como conseqüência ou não o financiamento de campanhas eleitorais", afirma. Por trás dessa lógica, porém, há um cálculo político. Caixa 2 é crime eleitoral e prescritível. No caso do PSDB, está prescrito o crime da campanha do então candidato a governador e atual senador tucano Eduardo Azeredo, em 1998. "Se o esquema for tratado como tráfico de influência, pega todo mundo: petistas, tucanos e afins", diz Fruet. "O caixa 2 é uma forma de dirimir crime judicial. Se o PT quiser pegar um general, vai perder seu marechal", diz, em referência a Azeredo e ao presidente Lula. Num organograma feito pelo deputado Gustavo Fruet para mostrar a teia de relações entre os principais personagens do escândalo, fica clara a ramificação intencional adotada por Valério. Isso dificultará, e em alguns casos até inviabilizará, a identificação da origem dos recursos. "Não vai aparecer detalhadamente a origem do dinheiro porque há uma enorme pulverização das contas de Valério. Aliás, é isso que caracteriza a lavagem: a estratificação", explica. Os parlamentares esperam fechar a lógica a partir da análise dos contratos de publicidade de estatais e privadas com DNA e SMP&B. "Só assim podem aparecer as empresas", diz Fruet. "A CPI já fez um estudo de quatro empresas de auditoria. Vamos ver um critério a partir da expertise de cada uma", afirma Delcídio. Entre elas, estão KPMG, Deloitte Touche Tohmatsu e PriceWaterhouseCoopers. A CPI já concluiu que o dinheiro dos bancos Rural e BMG está na origem de todo o intrincado esquema montado por Marcos Valério de Souza, acusado de operar o pagamento de mensalão no Congresso. O sub-relator de movimentações financeiras da CPI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), afirmou ao Valor que o esquema de Valério também pode incluir grandes empresas. "Parte da origem é o BMG e o Rural. Se ao final vamos descobrir outras fontes, ainda não sabemos. Mas é preciso esse choque de realismo", diz. Para a CPI está claro A cúpula da CPI está convencida de que os empréstimos feitos pelo Valério tinham o objetivo de não ser cobrados. Os recursos foram uma forma de compensação para grupos econômicos ganharem negócios no governo. Os empréstimos eram fictícios, apenas para "esquentar" recursos remetidos ao exterior, uma forma de lavagem de dinheiro. Em conversas reservadas com a cúpula da CPI, o controlador do BMG, Flavio Guimarães, admitiu ter "apostado" num projeto de poder e acreditar na manutenção do PT no poder. Por isso, teria começado a aproximação com o partido, o que sinalizaria uma espécie de tráfico de influência, segundo integrantes da CPI. Isso explicaria o monopólio do BMG no crédito consignado para aposentados do INSS e o emprego da ex-mulher de José Dirceu, Maria Ângela Saragoça, no banco, a pedido de Marcos Valério. A semana promete ser tumultuada nas CPIs. O concorrido depoimento do doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, mobilizará parlamentares das três CPIs amanhã. O senador Delcídio Amaral proporá ao colega Amir Lando (PMDB-RO), presidente da CPI Mista do Mensalão, a divisão dos parlamentares para não prejudicar outros três depoimentos desta terça. Na quarta, está marcada a esperada audiência conjunta das CPIs dos Correios e do Mensalão para ouvir o banqueiro Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity.