Título: Mensalão negocia colaboração do governo uruguaio
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2005, Política, p. A5
A CPI Mista do Mensalão começa esta semana a ofensiva internacional para tentar encontrar pistas da origem do dinheiro usado pelo empresário Marcos Valério Fernandes para colaborar financeiramente com o PT e os partidos da base aliada a pedido do PT. O deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), integrante da comissão permanente do Mercosul, representará a CPI em almoço, na quarta-feira, com Danilo Astori, ministro da Economia do Uruguai. O parlamentar tentará negociar com o governo daquele país a colaboração para o rastreamento dos R$ 6,3 milhões repassados ao PL pela empresa Guaranhuns Empreendimentos. Apesar de ter sede no Brasil, a empresa pertence a uma offshore com sede no Uruguai chamada Esfort Trading S/A, criada em 2001 e registrada em nome de Marta Otero Bergonzoni Dovat e Judith Viera Garola. As duas são acusadas pela Justiça Argentina e pelo Departamento de Combate ao Narcotráfico dos EUA (DEA) de terem lavado dinheiro para Cartel de Juárez, do México. Em lista apresentada por Valério à CPI dos Correios, a Guaranhuns teria repassado R$ 6.364.160,67. O ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas recebeu R$ 6 milhões e os R$ 326,6 mil restantes teriam ido para o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. O dinheiro teria vindo do Uruguai para financiar o esquema. José Carlos Batista, dono da Guaranhuns no Brasil, já foi indiciado pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro e sonegação de impostos no dia 9 de agosto. Os agentes garantem ter evidências de envios ilegais de dinheiro às Ilhas Cayman, um paraíso fiscal. No total, foram enviados mais de US$ 1 bilhão entre 1998 e 2005, segundo dados da investigação da PF quando das denúncias de irregularidade de remessas ao exterior por meio do Banestado. "Queremos saber se há dispositivos legais no Uruguai para o governo uruguaio colaborar conosco", diz Redecker. O Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça tem auxiliado a CPI na conexão com o Uruguai. "Temos um mapeamento de operações realizadas pela Guaranhuns e outras empresas que apareceram nas investigações da CPI do Banestado", afirma o deputado. Se a visita for produtiva, há a expectativa da ida de uma comissão da CPI ao Uruguai para intensificar as investigações. Nos depoimentos à PF e à CPI do Mensalão, Batista usou o direito de só se pronunciar em juízo e pouco colaborou para as investigações. Ele diz que é operador financeiro e trabalhou para conseguir recursos e ajudar aos partidos a pedido de Marcos Valério. "Mas no pouco que falou, demonstrou um déficit de entendimento sobre assuntos de corretagem e investimentos", diz o relator da comissão, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG). A desconfiança dos integrantes da comissão é de que Batista seja apenas o laranja da empresa, usada para lavar dinheiro. "Espero que o deputado Redecker tenha sucesso no encontro com o ministro uruguaio. Essa linha de investigação poderá ser muito importante para a conclusão dos nossos trabalhos", diz Abi-Ackel. Além da viagem de Redecker, a CPI terá dois depoimentos importantes nessa semana. Amanhã, a comissão ouvirá João Cláudio Genu, assessor do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), que teria recebido R$ 4,1 milhões e repassado à cúpula do partido. Na quarta-feira, o dono do grupo Opportunity, Daniel Dantas, falará às CPIs do Mensalão e dos Correios.