Título: Alca será retomada, afirma embaixador dos EUA
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2004, Internacional, p. A-11

A reeleição de George W. Bush permite aos governos do Brasil e dos EUA retomarem as negociações para criar, no ano que vem, a Área de Livre Comércio das Américas, afirmou o embaixador americano no Brasil, John Danilovich. Um dos maiores arrecadadores de campanha para o partido Republicano, Danilovich comemorava, já no início da manhã, a vitória de Bush sobre Kerry. Risonho e otimista, o embaixador considerou positiva até a ausência de referências ao Brasil e à América Latina na campanha presidencial dos EUA. "O assunto não foi citado porque (a América Latina) não é uma área-problema, e, durante a campanha, só se mencionaram áreas de profunda preocupação", comentou Danilovich. Ele elogiou a política econômica brasileira, e apontou o sucesso do lançamento de bônus do Brasil nos EUA e na Europa como um respaldo dos mercados internacionais, em Wall Street, Frankfurt ou Londres, à administração de Luiz Inácio Lula da Silva. "O Brasil vai indo bem, e não foi mencionado por nenhum dos candidatos; de certa forma, isso pode ser visto como uma coisa boa", argumentou. Para o embaixador, a eleição de Bush foi um aval do povo americano à guerra contra o terrorismo travada pelo presidente americano. Ele reconheceu que o voto em Bush não pode ser interpretado como apoio irrestrito à doutrina de segurança preventiva que levou ao ataque ao Iraque ("o apoio é para todo o pacote, para a liderança da pessoa em que se vota", definiu). Mas não há dúvida de que a eleição foi, sobretudo, uma escolha entre os que estavam a favor ou contra Bush, comentou. Comparando as ações de Bush contra o terror à luta contra nazistas na Segunda Guerra Mundial, e à Guerra Fria contra a URSS, Danilovich chegou a afirmar que vê, no Brasil, apoio à guerra travada pelo governo americano contra o terror. "O Brasil não apóia a guerra no Iraque, mas, por natureza e com seu exemplo apóia a guerra contra o terrorismo", afirmou o embaixador, ao argumentar que "a guerra contra o terror tem muitas aparências, muitas caras, nuances". O Brasil, disse, apóia a guerra contra o terrorismo com seu papel pela estabilidade no hemisfério sul, seus esforços com os vizinhos por democracia e estabilidade econômica. "Pode-se extrapolar e dizer que o Brasil apóia a guerra contra o terror com suas operações de manutenção da paz no Haiti", disse. Danilovich comentou também a eleição, nesta semana, do novo presidente do Uruguai, o esquerdista Tabaré Vázquez, mas disse não acreditar em uma tendência à esquerda para a América do Sul. "O rótulo pode ser de esquerda, mas a realidade (dos governos no Cone Sul) pode ser definida mais adequadamente por uma abordagem pragmática de governo, da realidade da economia", definiu. Danilovich disse acreditar que, após as eleições, o pragmatismo dos parlamentares americanos deve levar á aprovação do acordo de livre comércio com a América central e República Dominicana, fortemente criticado durante a campanha, principalmente pelos democratas. A aprovação de acordos de livre comércio deve ser facilitada pela maioria ganha pelos republicanos nas duas casa do Congresso, acredita o embaixador.