Título: Furlan vai à China sem levar salvaguardas
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2005, Brasil, p. A2

Ao contrário do que chegou a anunciar, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, viajará no fim do mês à China sem que o governo publique os decretos que regulamentarão as salvaguardas (barreiras comerciais) contra importações de produtos chineses danosas à produção nacional. Uma missão precursora à visita de Furlan, no dia 22, chefiada pelo secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Armando Meziat, será enviada à China com participação de dirigentes de associações empresariais de setores ameaçados pelos concorrentes chineses. O governo espera negociar a limitação de exportações da China ao Brasil, em troca do compromisso dos empresários brasileiros em adiar o recurso às salvaguardas. "Há acordo geral no governo, de que é necessário passar pelo processo negociador", confirmou o ministro do desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, ao sair ontem da reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que discutiu informalmente o assunto. "Não é ingenuidade, é pragmatismo. Trabalhamos com negociação, mas não vamos tolerar uma estratégia que deprede nossa indústria", disse ele, ao acrescentar que as providências para a oficialização das salvaguardas serão adotadas "em paralelo". Furlan vai à China no dia 28, e terá reuniões com o ministro do Comércio Exterior chinês, Bo Xilai e com o ministro do Planejamento, Ma Kai, nos dias 29 e 30. A missão chefiada por Meziat viaja hoje à China e terá representantes das associações de produtores brasileiros de calçados (Abicalçados), produtos têxteis (Abit), brinquedos (Abrinq) e Pneus (Anip), além do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). Os chineses tem comunicado ao governo brasileiro que vêem com muita preocupação a possível aplicação de salvaguardas e que preferem realizar com o Brasil acordos de auto-limitação de exportações, como já fizeram com a União Européia. Até a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff já havia anunciado que os decretos regulamentando a aplicação de salvaguardas deveriam ser editados antes da viagem de Furlan. Por intervenção do Ministério das Relações Exteriores, contudo, o governo adiou a decisão pelo temor de que a edição dos decretos levasse setores empresariais a entrarem com processos reivindicando barreiras contra os chineses antes da viagem de Furlan e, com isso, prejudicasse o clima das negociações. (SL)