Título: Comparecimento surpreende Lula
Autor: Caio Junqueira, Sérgio Bueno, César Felício e Cris
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2005, Política, p. A4
O alto comparecimento dos filiados ao PT na eleição de domingo surpreendeu positivamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros mais próximos, apesar de denúncias localizadas de fraude e de derrotas do Campo Majoritário em alguns Estados. A avaliação foi feita ontem na reunião da Coordenação de governo. O presidente Lula decidiu não votar porque temia vincular ainda mais sua imagem à crise vivida pelo partido. Mais que isso, à tendência moderada Campo Majoritário, que ajudou a criar mas é o centro da crise vivida pelo PT. Mesmo estimulado a comparecer à votação por alguns de seus ministros, que chegaram a garantir sua presença no pleito, pesou na avaliação de Lula os riscos que corria. O primeiro é de que a eleição pudesse não dar o quorum mínimo de 15% dos eleitores aptos a votar e se mostrar um fracasso. O segundo é que houvesse escândalos de compra de votos que levassem à anulação do pleito. O fato de Lula votar poderia ligá-lo a mais um episódio desgastante. Na avaliação de seus auxiliares, o presidente precisa aproveitar este momento em que saiu do foco da crise para tentar levantar o governo. Além disso, Lula quis evitar especulações em torno de seu voto. Se o ex-ministro Ricardo Berzoini, do Campo Majoritário, "o melhor candidato para o governo", na opinião de um ministro, viesse a ter uma votação aquém do esperado - entre 40 e 50% - temia-se que a o desempenho também fosse atrelado ao presidente Lula, que é da mesma tendência. Sua presença também poderia significar a interferência do Executivo na eleição e ser alvo de críticas de outros candidatos das tendências mais à esquerda. Depois de concluída a disputa interna, Lula deseja mostrar estar acima das correntes do partido. Outro motivo foi o fato de a eleição ter se tornado um fórum para críticas ao governo Lula e à sua política econômica. Apesar disso, petistas próximos ao presidente fizeram ponderações sobre os efeitos da ausência dele na eleição. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), disse que entende a decisão de Lula "em função da sua representatividade" e a preocupação do presidente em demonstrar imparcialidade no processo decisório do partido. Ainda assim, reclamou: "Eu preferia que o presidente tivesse comparecido. Ele sempre foi um militante exemplar, e a nossa militância aprendeu todas as lições com ele e apareceu em massa para votar". (Colaborou Maria Lúcia Delgado)