Título: Heloisa Helena lança candidatura no Senado e defende verticalização
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2005, Política, p. A5

O tempo de televisão será mínimo, a estrutura de arrecadação sequer foi imaginada, mas a candidatura da senadora Heloísa Helena (AL) à Presidência da República não é desprezada pelos políticos mais experientes do Senado. Intelectuais que se desvincularam do PT a partir de 2003 vão preparar o programa de governo e a plataforma econômica do PSol. Entre eles estão o economista Reinaldo Gonçalves, da UFRJ; o filósofo Paulo Arantes, da USP; o sociólogo Chico de Oliveira; e o cientista político César Benjamin, criador do Movimento Consulta Popular. A expectativa é que pelo menos as diretrizes do programa estejam concluídas ao fim deste ano. "Em 2006 não vamos ficar entre o falso dilema dos neoliberais do PT e os do PSDB", disse ontem a senadora, admitindo abertamente a candidatura. O PSol também lançará candidaturas majoritárias nos Estados, garante ela. "Vamos trabalhar muito para que alguns se elejam, mas outros sabem que farão o sacrifício de disputar espaço político mesmo com insignificante chance de serem eleitos", explicou a senadora. Heloísa Helena comemorou ontem na tribuna do Senado a concessão do registro definitivo do partido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Coincidentemente, no momento em que o PT decide seu futuro e elege um novo presidente. "Não guardamos mágoa nem rancor do processo que vivenciamos", disse a ex-petista, expulsa do PT. O PSol, segundo ela, não vai funcionar como partido nanico para moeda de troca e nem será um partido grande se tiver que vender a alma. Heloísa Helena não aposta na aprovação da reforma política no Congresso, mas garante que, por princípio, é a favor do financiamento público de campanha. "Desde que haja rigorosa e implacável fiscalização, e seja criado um Conselho Nacional (para acompanhar doações)", disse a senadora. A decisão que o Congresso tomar sobre a verticalização de alianças, alegou ela, não afetará o futuro do partido. "Isso passou a ser importante para os partidos que pensam em grandes acordos eleitoreiros. Por princípios, defendemos a verticalização", afirmou ela, lembrando que se trata de um instrumento importante para a manutenção da coerência política. Ao discursar na tribuna ontem, Heloísa Helena chorou depois de inúmeros elogios que recebeu do colega Pedro Simon (PMDB-RS). O pemedebista acha que, com o descrédito da classe política, a candidatura da senadora pode "crescer em meio a essa equação negativa". "Eu sonharia com uma rearticulação político-partidária em que estivéssemos todos juntos", alegou Simon. "Creio que se o quadro for esse em 2006, Vossa Excelência surpreenderá muito na votação como presidente da República", emendou. Simon disse que os políticos que lutaram pela consolidação da democracia têm a obrigação de explicar à nação o que fazer de agora em diante. "Vossa Excelência é esse novo sol, esse novo raiar da esperança, essa nova expectativa. É a filha que eu gostaria de ter tido", afirmou o senador. O líder do PMDB, senador Ney Suassuna (PB), disse que às vezes tem vontade de "esganar" Heloísa Helena, mas elogiou o empenho e a vitalidade da ex-petista para criar uma alternativa na cena política. Ela recebeu elogios de outros parlamentares na tribuna, como o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). O petista insistiu em falar do PT, mas foi impedido pelo senador Mão Santa (PMDB-PI), que presidia a sessão: "A esperança que nasce é o PSol. Nós não queremos falar das trevas, da escuridão, mas da luz", disse. O TSE decidiu na quinta-feira passada conceder o registro ao PSol. Para ser criada, a legenda precisaria ter apoio de pelo menos 450 mil eleitores de dez estados. O PSol conseguiu mais de 800 mil assinaturas de apoio. Começam agora as filiações oficiais. Heloísa Helena é a presidente oficial do partido. Ela informou que o PSol vai analisar com rigor ético a forma de contribuição.