Título: Bloco propõe ampliar para mais de 80% a abertura para os canadenses
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2005, Política, p. A10

Para atrair o Canadá para um acordo independente da criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), o Mercosul acena com oferta inicial ampliando para mais de 80%, em valor de comércio, a abertura do bloco para empresas canadenses no prazo de dez anos - bem além do que foi oferecido na Alca. No caso das importações da Argentina, haveria disposição de dobrar a liberalização. O Brasil oferece aumentar 60% sua oferta. Na Alca, a proposta brasileira aos canadenses foi de abrir 57% em valor do comércio em dez anos. Agora, pode chegar a 90%. A idéia de dobrar a oferta do Mercosul na Alca, de fevereiro de 2003, surge também em relação ao número de itens tarifários. Na Alca, 4.657 do total de 9.642 linhas tarifárias estavam na cesta D (mais de 10 anos), representando 48,39% do total. O Mercosul estaria disposto a reduzir fortemente esse número para o Canadá, fazendo saltar o total de linhas tarifárias a serem desgravadas em dez anos. "Estamos prontos a ir muito além do que fomos na Alca", diz o chefe do Departamento de Negociações Comerciais Internacionais do Itamaraty, Regis Arslanian. "Vamos para a mesa de negociação sem excluir nada", afirma o conselheiro Tovar da Silva Nunes, que chefia a divisão de Alca no Itamaraty. Mas produtos mais sensíveis por razões de agricultura familiar e segurança alimentar, teriam liberalização em prazo superior a dez anos, como leite e trigo, de especial interesse exportador do Canadá. Na Alca, o Canadá demonstrou interesse especial na abertura do Mercosul no setor de serviços, tanto os tradicionais (telecomunicações e bancário), quanto os novos (como os ambientais). Agora, na negociação bilateral, o bloco indica estar disposto a negociar, nessa área, uma preferência para o Canadá que vai além do que aceita na Organização Mundial de Comércio (OMC), o que é normal nesse tipo de entendimento bilateral. Também diz estar pronto a garantir acesso aos investidores canadenses em tudo que seja produção de bens, mas não a portfólio especulativo. Nessa área, o Brasil tem interesse também ofensivo, já que companhias brasileiras registram hoje US$ 1 bilhão investidos em siderurgia, papel e outros setores no Canadá. O interesse do Mercosul é de ampliar a agenda tradicional, incluindo novos produtos dinâmicos. Para o Brasil, um exemplo é a exportação do carro flex (movido a gasolina ou álcool), considerando a preocupação ambiental na sociedade canadense. Na Alca, o Canadá tinha pedido ao Mercosul mais liberalização para entrada de máquinas e equipamentos, químicos, componentes para a indústria da aviação, serviços financeiros e telecomunicações. De outro lado, a oferta canadense tinha excluído produtos como aves, ovos e lácteos. Açúcar estava na categoria para abertura em mais de dez anos. O Canadá é o segundo maior importador do produto brasileiro, só superado pela Rússia. Para carne suína, soja, suco de laranja, álcool e couros, a desgravação oferecida era imediata ou em até cinco anos. Em bens industriais, o Canadá incluíra tudo. (AM)