Título: Volkswagen leva modelo de Resende para África do Sul
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2005, Empresas &, p. B6

Veículos Subsidiária brasileira começará a operar, em 2006, fábrica de caminhões e ônibus em Port Elizabeth

Na metade do próximo ano, uma filial da subsidiária brasileira da Volkswagen Caminhões e Ônibus começará a funcionar em Port Elizabeth, na África do Sul. A exemplo do que fez no México um ano atrás, a montadora terá no continente africano uma miniatura da fábrica erguida em Resende, no Rio de Janeiro, há nove anos. Dessa forma, a divisão de veículos comerciais do grupo alemão dá mais um passo na estratégia de explorar os mercados de todo o Hemisfério Sul a partir da base fixada no Brasil, a única da Volks que produz caminhões e ônibus em todo o mundo. Como no México, a linha da África deveria montar veículos com todas as peças feitas no Brasil e exportadas pela unidade de Resende. Mas, diante da valorização cambial, a direção mundial da companhia entende que chegou a hora de comprar itens também nos mercados onde estão essas novas fábricas. O chefe mundial da Volkswagen Veículos Comerciais, Bernd Wiedemann, disse ontem ao Valor que alguns componentes poderão ser comprados no mercado local do México e também na África do Sul. É o caso de motores, por exemplo. "A Cummins, que nos vende motores no Brasil, por exemplo, também pode fazer as entregas no México", exemplificou o executivo. A companhia já tem o prédio onde será instalada a linha de produção na África do Sul. Fica ao lado da linha de produção de automóveis Volkswagen naquele país. A operação começará com a montagem de ônibus. No final de 2006 começará a funcionar a linha de caminhões. Assim que concluir o projeto sul-africano, a Volks começará a preparar o plano de construção de mais uma filial do Brasil no Oriente Médio. Além dessas unidades, a empresa tem, ainda, uma pequena linha de ônibus na Colômbia, uma operação que funciona numa parceria com a Non Plus Ultra, um fabricante local. Aos poucos, a empresa desenha o plano de atuação na metade sul do planeta. Essa parte do mundo concentra os países mais pobres. Por isso, a direção da Volkswagen vislumbra nessa área mercados promissores para os caminhões que desenvolveu para o solo brasileiro. "Queremos estar nos mercados dos países em desenvolvimento, que precisam de caminhões robustos e de baixo custo para enfrentar buracos, lombadas e uma qualidade de combustível bastante questionável", afirma Roberto Cortes, executivo que preside a filial brasileira e, por conseqüência, a operação mundial de caminhões e ônibus do grupo. Ao incluir modelos leves e extra-pesados na linha, Cortes almeja, agora, num prazo de dois anos, ter 35% do mercado brasileiro, cerca de três pontos percentuais mais do que hoje, e a mesma fatia em cada um dos mercados que atende a partir das exportações brasileiras de kits com peças e de veículos completos. O plano para 2007 já está pronto. A direção da Volkswagen quer alcançar em Resende uma produção anual de 50 mil caminhões e ônibus, com 12 mil unidades destinadas à exportação. Isso trará uma receita bruta de R$ 6 bilhões. A fábrica, que começou a funcionar com a produção anual de 15 mil veículos, em 1997, fechou 2004 com 38 mil unidades (sendo 7,5 mil exportadas) e um faturamento em torno de R$ 4,1 bilhões. O mercado de caminhões e ônibus do Hemisfério Sul soma 200 mil veículos por ano. Segundo Wiedemann, a estratégia da companhia prevê instalar o chamado consórcio modular em cada futura filial da operação, como já acontece no México. O consórcio modular é um modelo de fabricação de veículos, inventado na unidade de Resende, com a participação dos principais fornecedores. Os funcionários de oito empresas de autopeças trabalham ao lado dos empregados da Volks para montar o veículo. "O consórcio modular é um sistema flexível, que permite aumentar ou diminuir a produção com custos fixos mais baixos", afirma Wiedemann. "Nele você divide custos e riscos e todos os parceiros cuidam do negócio porque o seu dinheiro está ali", completa o executivo. Segundo ele, o sistema de consórcio modular não serve para volumes de produção acima de 70 mil veículos. E se Resende chegar a esse limite ? "Podemos construir outra fábrica", responde.