Título: Com mercado calmo, dívida pública cresce
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2005, Finanças, p. C3

Financiamento do Governo Endividamento em títulos federais salta R$ 110,5 bi só este ano e vai a R$ 920,7 bi

Os leilões de títulos da dívida pública nas duas últimas semanas mostraram, segundo a interpretação do governo, que já passou o período de maior volatilidade do mercado financeiro em razão da crise política. A análise é do coordenador-geral de Operações da Dívida Pública do Tesouro, Paulo Valle. Ele reconhece que a última semana de julho e a primeira quinzena de agosto foram marcadas por nervosismo, o que obrigou o Tesouro a reduzir suas ofertas. "Nas duas últimas semanas, os leilões foram bem mais tranqüilos, com demanda alta", informa Valle. A apropriação dos juros levou o estoque da Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi) para R$ 920,79 bilhões em agosto, o que representou crescimento de 0,6% sobre o valor de julho (R$ 915,67 bilhões). Valle recusou-se a projetar a queda da dívida em virtude da decisão do Banco Central que reduziu a Selic de 19,75% para 19,5%. Mas um cálculo precário indica que, se a taxa básica ficar estável por 12 meses, a dívida poderia diminuir R$ 1,25 bilhão. Esse seria o impacto da queda de 0,25 ponto percentual da Selic nas LFTs. O governo prevê que, em setembro, pode emitir até R$ 32 bilhões. Já foram emitidos, até ontem, R$ 15,2 bilhões. Em agosto, os resgates de títulos superaram as emissões por meio de ofertas públicas, provocando impacto "expansionista" de R$ 7,8 bilhões. No mês passado, a previsão do Tesouro era a de emitir até R$ 35 bilhões, mas a volatilidade do mercado obrigou o governo a ser mais conservador, o que limitou as emissões a R$ 27,9 bilhões. "Os fundamentos da economia estão muito positivos e o mercado está mais demandante. De janeiro a agosto, já rolamos 105% da dívida", pondera Valle. O estoque da DPMFi, em dezembro de 2004, era de R$ 810,26 bilhões e o impacto dos juros altos levou esse valor a R$ 920,79 bilhões em agosto, um acréscimo de R$ 110,53 bilhões só este ano. A nota conjunta divulgada pelo BC e pelo Tesouro mostra que, no mês passado, melhoraram as participações dos títulos prefixados, corrigidos pela Selic, vinculados ao câmbio e da dívida de curto prazo. Considerando as operações de swap, o espaço dos prefixados aumentou de 22,37% para 23,87% do total em agosto. Os papéis vinculados à Selic tiveram sua participação reduzida de 57,32% para 55,85% no mês passado. A porcentagem dos títulos atrelados ao câmbio caiu de 4,15% para 4,11%. E a parte da dívida com vencimento em 12 meses também foi reduzida, em agosto, de 44,15% para 42,71%. "Estamos alargando o prazo da dívida, o que diminui a parcela que vence no curto prazo. No final do ano, vamos ficar próximos dos 40% para os papéis de 12 meses, já que o intervalo da meta para 2005 é entre 40% e 45%", explica Valle. No mês passado, ficaram praticamente estáveis as participações dos papéis ligados aos índices de preços (13,71%) e à TR (2,46%). O prazo médio das emissões em ofertas públicas aumentou para 25,1 meses em agosto. Em julho, era de 27,9 meses. Mas o prazo médio do estoque da dívida diminuiu de 27,6 meses (julho) para 27,4 meses no mês passado. A expectativa do governo é a de rolar, sem problemas, R$ 61 bilhões em 1º de outubro. Esse é o maior vencimento de papéis prefixados do ano. Segundo Valle, até 9 de setembro, Tesouro e BC retiraram R$ 20,95 bilhões. Faltam menos de R$ 40 bilhões para resgate da concentração de outubro. O chefe do Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab) do BC, Ivan Oliveira Lima, informa que, em agosto, foram realizadas 18 intervenções para controlar a liquidez de curtíssimo prazo no mercado de reservas bancárias. Até 16 de agosto e no último dia do mês, o BC doou recursos em operações cujo volume financeiro médio foi de R$ 7,4 bilhões por dia, à taxa de 19,78%. Entre 17 e 30 de agosto, o BC enxugou o excesso de liquidez em operações compromissadas com volume financeiro médio de R$ 4,7 bilhões por dia, à taxa de 19,72%. Oliveira Lima também informa que, no mercado secundário, o volume diário médio das operações definitivas com corretagem reduziu-se em 33% na comparação com julho, chegando a R$ 2,7 bilhões. As compromissadas com corretagem tiveram média diária, em agosto, de R$ 1,7 milhão. A participação das operações com corretagem nos negócios com títulos de rentabilidade prefixada foi de 25,7% no mês passado. A LTN que vence em janeiro de 2007 foi a mais negociada, com volume diário médio de R$ 555 milhões, o que representa 40,5% do total das operações definitivas. O chefe do Demab diz que o BC decidiu publicar mais informações sobre as operações definitivas com corretagem para mostrar a atuação dessas instituições (corretoras) no mercado secundário.