Título: BC propõe mais parcerias entre redes e inovação
Autor: Adriana Aguilar
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2005, Valor Especial / CARTÕES E CRÉDITO AO CONSUMIDOR, p. F2

A intenção do Banco Central é que os pagamentos por meios eletrônicos (DOC, TED, cartões) superem, cada vez mais, as negociações com cheques e dinheiro. O custo de um pagamento eletrônico pode ser metade do custo do pagamento em papel. Para atingir esse objetivo, desde junho, o BC tem chamado representantes das administradoras de cartões de crédito e dos bancos para discutir o assunto. "Muitas vezes, as empresas chamadas para a reunião com o BC são concorrentes no mercado. Dificilmente haveria comunicação entre elas. Há necessidade de uma entidade neutra, como o próprio Banco Central, chamar as companhias para conversarem", afirma o consultor do Departamento de Operações Bancárias e de Sistemas de Pagamentos do Banco Central (Deban), Marcos José Rodrigues Torres. Uma das sugestões feita às administradoras e instituições é que compartilhem as redes nas cidades mais afastadas. Ou seja, o mesmo terminal serviria para cartões de empresas diferentes. Dessa forma, o custo de infra-estrutura cairia. Em outubro, está prevista a divulgação de algumas diretrizes do BC, incentivando soluções e inovações em parceria pelas empresas. Torres explica que o BC não estabelece nem prazos e nem metas para as empresas. "Nas reuniões realizadas, apenas apresentamos nossos objetivos e, depois, acompanhamos os resultados do trabalho das instituições, desde que mantida a satisfação do consumidor", diz. Atualmente, do total de terminais que aceitam cartões, 56% deles estão concentrados no Sudeste, 17%, no Sul e 15%, no Nordeste. O percentual cai para 8% no Centro-Oeste e 4%, nos Estados do Norte. Os números constam do estudo "Diagnóstico do Sistema de Pagamentos de Varejo no Brasil", disponível no site do BC. A pesquisa foi iniciada em 2002 e incluiu visitas aos bancos centrais de outros países para observação da experiência deles sobre os pagamentos eletrônicos. Uma das conclusões do estudo é que existem países com um elevado uso de instrumentos de pagamentos em papel (cheque), como no Brasil e nos EUA. Em outros lugares, como Japão e Suíça, há um volume maior de negociação em dinheiro. Bélgica, Holanda e Alemanha destacam-se pelo uso dos instrumentos eletrônicos, com pouco dinheiro e cheque em circulação. Segundo o diagnóstico, países como Reino Unido, Suíça, Bélgica, Finlândia e França, por exemplo, adotam uma única rede que serve para as instituições financeiras. As máquinas são padronizadas e o acesso às operações básicas (saques, consultas e pagamento) é aberto a todos os usuários de qualquer banco. A adoção da rede única por esses países permitiu a maior distribuição do canal eletrônico em função da redução dos custos de instalação e de manutenção. O resultado foi o aumento do número de transações por habitantes e a maior quantidade de terminais disponíveis aos clientes. Considerando o número de terminais por milhão de habitantes, os EUA são exemplo de rede grande com alta utilização. Segundo estudo do BC, a Suécia merece destaque por apresentar rede pequena com grande uso de cartões, enquanto que o Japão possui rede grande com baixo aproveitamento dos terminais. Por enquanto, o objetivo do Banco Central é apenas coordenar e fazer sugestões, sem qualquer tipo de regulamentação para os instrumento de pagamentos eletrônicos no Brasil. Mas há exemplos de países que interferiram com regras na relação entre empresas de cartões de crédito e clientes, informa Torres. O Banco da Austrália, por exemplo, tabelou o percentual que os bancos recebem sobre as compras feitas com cartões nas lojas do país. A iniciativa ainda está sob avaliação das autoridades australianas e dos bancos centrais de outros países, para saber se é benéfica ou se reduz o número de cartões usados.