Título: Falta de oficiais pode afetar empresas de navegação
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2004, Especial, p. A-14
O Brasil corre o risco de enfrentar um "paradão" nas atividades de apoio marítimo e de navegação por falta de profissionais para operar os navios. "Daqui a um ano podemos ter um colapso", adverte Celso Luiz Pereira de Souza, coordenador de um grupo de trabalho que identificou as necessidades de formação de oficiais de marinha mercante no período 2004-2010. Ele afirmou que, em 2008, podem faltar cerca de 1,2 mil oficiais para atender às necessidades das empresas de navegação no país. O diagnóstico faz parte de um relatório elaborado pelo grupo de trabalho do comitê de transporte marítimo do Programa de Mobilização da Indústria de Petróleo e Gás Natural (Prominp). O programa surgiu por iniciativa do governo federal com objetivo de aumentar os índices de conteúdo nacional nas compras e contratações da indústria de petróleo e gás. O relatório foi encaminhado a Maria das Graças Foster, secretária de petróleo e gás natural do Ministério de Minas e Energia. Ela integra o comitê executivo do Prominp. Segundo o relatório, existe um consenso de que, se ações não forem tomadas, os armadores terão problemas para operar seus navios. O cenário disponível indica que o contingente de oficiais formados nas duas escolas da Marinha do Brasil, uma no Rio de Janeiro e a outra em Belém, no Pará, não são suficientes frente ao aumento da demanda por profissionais das empresas de apoio às plataformas de petróleo e dos armadores que operam com cargas na cabotagem e no longo curso. Só no off shore a demanda por oficiais deve crescer mais de 100% até 2010. Em 2003, a Marinha formou apenas cerca de 150 oficiais e, em 2004, o número deverá ser ainda menor. O problema é agravado pelo fato de que hoje cerca de 30% dos oficiais em atividade têm entre 46 e 50 anos e estão próximos da aposentadoria. Isso significa uma provável redução da força de trabalho em cinco ou seis anos. De acordo com o relatório, a oferta de oficiais poderá ser reduzida em 41% em 2010 em relação a 2003. Outro problema para as empresas do setor é a evasão dos oficiais formados, que chega quase a 60%. Muitos formandos abandonam a carreira após terminar o curso. A estimativa de um déficit de cerca de 1,2 mil oficiais para atender à demanda em 2008 leva em conta uma evasão de 59%. Como soluções a todos esses entraves, o grupo de trabalho do Prominp propõe a redução da evasão por meio de medidas como a aplicação de testes vocacionais para os estudantes e o aumento no número de vagas nas escolas da Marinha, medida que esbarra no contingenciamento de recursos imposto pela União. A cada ano, a Marinha abre cerca de 250 vagas para a formação de novos oficiais. A concorrência é enorme, pois ao final do curso o emprego é garantido. "É uma situação de pleno emprego", diz Bruno Lima de Rocha, vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma). O oficial de náutica, responsável pela condução do navio, se forma em quatro anos (sendo um de prática a bordo) e começa na carreira como segundo-oficial, com salário entre R$ 3 mil e R$ 4 mil. Quando atingir o posto mais alto, o de comandante, não ganhará menos do que R$ 8 mil. Estima-se que existam 2,5 mil oficiais em atividade no país.