Título: Estrangeiras abrem espaço para autor brasileiro
Autor: Sérgio Bueno e Daniela D'Ambrosio
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2004, Empresas, p. B-4

As editoras estrangeiras têm planos ambiciosos para o Brasil. Dispostas a desenvolver o mercado local e apostar em autores brasileiros e não simplesmente em traduzir títulos do exterior, essas empresas pretendem disputar a liderança do segmento onde atuam. Depois da Santillana, divisão do grupo de mídia espanhol Prisa que em 2001 comprou a Editora Moderna, duas outras espanholas chegam fortes ao país: a Planeta e a Edições SM. "São editoras já consolidadas em países de língua espanhola e que agora querem explorar o enorme potencial do mercado brasileiro, que tem apenas 26 milhões de leitores", afirma Marino Lobello, vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro. A Planeta chegou ao Brasil no ano passado e já lançou cerca de 180 títulos. Maior grupo de comunicação de língua espanhola e o quinto maior no mundo - fora do Brasil, eles têm rede televisão, jornais e rádio -, a empresa pretende ficar entre as primeiras posições no mercado brasileiro de obras de interesse geral. "Somos líderes nos países onde estamos e queremos estar entre as primeiras posições também no Brasil", afirma César Gonzalez, diretor da Planeta. A meta, segundo Gonzalez, é atingir um patamar de cem novos títulos por ano. "O Brasil é um mercado muito interessante para qualquer editora", avalia o executivo. Um de seus principais sucessos deste ano foi "A Vida de Chico Xavier", que superou a marca de 100 mil exemplares vendidos. Com uma estratégia ambiciosa, a empresa espanhola conseguiu conquistar importantes escritores nacionais, como Zuenir Ventura, que deve lançar um livro no início de 2005, e Fernando Moares, que está preparando a biografia da agência W Brasil - ainda sem data definida para o lançamento. "Esses autores não têm contratos de exclusividade com as editoras como se pensava", explica Gonzalez. "As negociações são feitas por projetos", completa. Além de um contrato vantajoso, para conquistar autores desse calibre a empresa oferece a possibilidade de publicação fora do Brasil. "Podemos oferecer uma plataforma de lançamentos para outros mercados e isso atrai autores de primeira linha", diz o diretor. A Planeta também pretende lançar autores brasileiros ainda não conhecidos, mas com potencial de virar bons vendedores. Outra editora espanhola que resolveu desbravar o mercado brasileiro é a Edições SM, há 60 no seu país de origem e que no ano passado teve um faturamento de 160 milhões de euros. Presente no Chile, México e Argentina, a SM - especializada em publicações escolares (didáticas e paradidáticas) e literatura infantil e juvenil - chegou ao Brasil em agosto deste ano. A editora pretende investir R$ 30 milhões nos quatro primeiros anos para consolidar sua presença no mercado brasileiro. "Nosso objetivo é dar um forte suporte ao trabalho do professor, o apoio a pesquisas educativas e o estímulo à leitura", afirma Alexandre Faccioli, diretor editorial da SM no Brasil. Até o final do ano, a empresa deve lançar 20 títulos e, para 2005, a previsão é colocar 40 livros no mercado. "Nosso objetivo não é ter uma presença tímida no Brasil", diz Faccioli. "Queremos entrar na disputa para vender ao governo e ser uma das três maiores em livros didáticos no Brasil." A associação com empresas brasileiras é outra forma que as estrangeiras encontram para acessar o mercado nacional. Há pouco mais de um mês, a Harbra fez uma associação com a MM Editorial - empresa com sede comercial em Londres e sede editorial em Atenas - para a venda de livros de ensino da língua inglesa. "Com essa parceria ganhamos cinco anos em termos de produção", afirma Maria Pia Castiglia, supervisora do departamento editorial. A Harbra atua na área de livros didáticos e de interesse geral. A partir desse acordo, nos próximos anos, a Harbra planeja atuar também no Mercosul, América Central e México. A expectativa de Maria Pia é de um crescimento de 30% em dólar para os próximos três anos. (DD)