Título: Dirigentes dizem que saída de banqueiro destinou-se a proteger patrimônio
Autor: Cristiano Romero e Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2005, Especial, p. A12

Dirigentes de fundos de pensão reagiram veementemente às declarações do banqueiro Daniel Dantas, em depoimento ontem na CPMI conjunta do Mensalão e dos Correios, que afirmou ter havido um movimento de governo para afastá-lo da gestão das empresas controladas pelos fundos que reúne o Citigroup, os fundos de pensão e o próprio Opportunity. "O movimento de afastamento do Opportunity (banco de Dantas) da gestão das empresas foi de dez fundos de pensão diferentes. Isso aconteceu desde o ano 2000, quando era outro governo. Não há qualquer evidência de interferência política. Questionamos as ações em benefício do próprio Opportunity. A destituição foi em proteção do nosso patrimônio", disse Sérgio Rosa, presidente da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) Tanto Rosa como o presidente da Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, Wagner Pinheiro de Oliveira, rebateu a declaração de Dantas de os fundos de pensão de agirem "em detrimento dos próprios fundos". Para Pinheiro, "os fundos só agiram em detrimento próprio quando fizeram aliança com o banco Opportunity". De acordo com o executivo, o Petros entrou "para fazer parte do bloco de controle", mas isso não aconteceu e, desde 2000, o fundo tenta recuperar o investimento feito. "Tivemos nosso investimento depreciado e agora, com a destituição desse senhor da gestão, queremos recuperar os recursos". Outra contestação foi com relação à venda, pela Telefônica para a Brasil Telecom, da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). Dantas disse que a BrT, administrada pelo fundo que era o gestor, foi pressionada a pagar mais que a empresa valia. Rosa explicou que como diretor da Previ na época, participou da reunião realizada para discutir a operação. E a determinação do então presidente, Luiz Tarquínio, foi de que o representante do fundo votasse na reunião do conselho da empresa as propostas apresentadas pela diretoria da BrT, exatamente a que defendia um preço mais baixo. Tarquínio afirmou que Dantas deve apresentar as evidências dessas acusações. "Quem conduziu o processo de aquisição da CRT foi a Brasil Telecom, não adianta dizer que nós trabalhamos de forma detrimental", disse o ex-presidente da Previ. Daniel Dantas afirmou, em dois momentos durante depoimento que se ofereceu várias vezes para comprar a parte dos fundos nas operadoras na BrT, uma vez que havia insatisfação desses órgãos com sua gestão nas companhias. Segundo Rosa, Dantas "mentiu" e que Opportunity jamais apresentou uma oferta objetiva de compra da participação dos fundos na BrT como disse no depoimento. "Recebemos uma carta de dez linhas colocando a possibilidade e respondemos solicitando mais informações que não recebemos retorno", disse Sérgio Rosa. O mesmo afirmou o presidente da Petros, que pediu que Daniel Dantas mostre, por escrito, as propostas que afirma já ter feito para comprar a participação dos fundos de pensão nas operadoras de telefonia controladas pelo fundo CVC. Segundo Wagner Pinheiro, "qualquer proposta de compra tem que ser documentada, mas nem verbalmente isso aconteceu".