Título: Mulheres ficam com 61% das vagas criadas nos últimos 12 meses
Autor: Raquel Salgado e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2005, Brasil, p. A2

A mulher está ganhando espaço no mercado de trabalho. Entre agosto de 2004 e o mesmo mês deste ano, de cada dez postos de trabalho criados no país, seis deles foram ocupados por mulheres. Neste período, foram abertas 470 mil novas vagas e 288 mil foram ocupadas por mulheres e as outras 182 mil por homens. "O mercado de trabalho está cada vez mais feminino", avalia Cimar Azeredo, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O pesquisador explica que o crescimento da porcentagem de mulheres dentro da população ocupada está ocorrendo em ritmo mais acelerado do que a entrada delas na população em idade ativa, ou seja, aquela apta a procurar um emprego. "Isso significa que se a presença feminina cresceu entre os ocupados é porque elas estão conseguindo entrar no mercado de trabalho". Em agosto de 2004, 56,6% da população com emprego era formada por homens e 43,4% eram mulheres. Hoje, 56,1% do total dos ocupados são do sexo masculino e 43,9% mulheres. Em 2003, essa relação era de 57% de homens e 43% de mulheres. Duas hipóteses podem explicar o avanço feminino no mercado de trabalho. As mulheres são, em média, mais escolarizadas do que os homens, o que as deixa em vantagem na hora de concorrer a um emprego. Os dados do IBGE mostram, por exemplo, que apenas as pessoas com mais de oito anos de estudo têm conseguido trabalho. Nos últimos 12 meses até agosto, a ocupação cresceu 6% para quem tem 11 anos ou mais de estudo e só 0,7% para quem estudou entre oito e dez anos. Por outro lado, a variação da taxa de ocupação é negativa para os que ficaram menos de oito anos nos bancos escolares. A outra hipótese levantada pelo IBGE é a de que há mais mulheres trabalhando porque o emprego nos serviços domésticos cresceu. As mulheres estariam deixando de ser donas-de-casa para trabalharem como empregadas domésticas. Em 12 meses, a população empregada nesse tipo de trabalho cresceu 7,5%, passando a representar 8,3% do total do pessoal ocupado no Brasil. Em agosto, o mercado de trabalho manteve um quadro de estabilidade, mas com aumento de renda. A ocupação cresceu 0,4% sobre julho e a taxa de desemprego se manteve em 9,4%, pelo terceiro mês consecutivo. O diferencial positivo veio da renda, com variação de 0,7% ante julho e um avanço de 3,7% sobre agosto do ano passado, recorde da série história da nova Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, iniciada em novembro de 2002. Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), não há motivo para muita euforia, já que o rendimento médio real de R$ 973,20 ainda está abaixo dos R$ 986,47 de fevereiro de 2003 e ainda mais longe dos R$ 1.039,11 de dezembro de 2002. Mesmo em um cenário arrefecido, a massa salarial cresceu 5,6% em julho ante julho de 2004, último dado disponível. Marcelo de Ávila, economista da área de trabalho do Ipea, atribui o aumento do rendimento médio real dos trabalhadores à inflação. "A inflação em 12 meses está em desaceleração e, por isso, estamos melhor do que no ano passado, quando começou a lenta recuperação do poder aquisitivo do pessoal empregado. Daqui para a frente é que vamos saber qual é a direção do rendimento." Ávila ressalta que as pessoas que estão entrando no mercado de trabalho entram com rendimento menor do que este levantado pela PME, ainda que que mais está se beneficiando das novas vagas é o contingente de 11 anos ou mais de estudo. "Os ocupados com escolaridade inferior a três anos e entre quatro e sete anos estão perdendo vagas", alertou. O economista responsável pela pesquisa de emprego do IBGE acrescenta que o "efeito salário mínimo" tem ainda impacto sobre o rendimento, pois muita gente está pagando agora o reajuste. Ao analisar os dados de agosto, Azeredo avalia que estão indicando que vai haver um início de um processo de retomada do emprego nos próximos meses, depois de uma estagnação em junho e julho. Essa retomada pode ser esperada devido aos bons resultados no setor industrial do Estado de São Paulo, onde a ocupação avançou 1,25% em relação a julho. Ela também está sinalizada no segmento de serviços prestados a empresas, que teve alta de de 5,7% entre julho e agosto deste ano. O emprego com carteira assinada ficou estável em agosto ante julho, mas cresceu 6,2% em relação ao mesmo período de 2004, principalmente na faixa etária de 25 a 49 anos e com alta escolaridade. "O quadro é de estabilidade, mas em setembro e outubro espera-se uma evolução mais clara do mercado de trabalho. Tudo vai depender das encomendas do comércio à indústria", afirma Azeredo. Marcelo de Ávila, do Ipea, não crê que em 2005 a ocupação vá crescer tanto como no ano passado. "Acho que vamos superar os 469 mil novos empregos até agosto, mas não vamos expandir como em 2004, quando foram gerados 649 mil postos de trabalho", avaliou.