Título: Calçadistas pedem que governo retalie Argentina
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2005, Brasil, p. A3

Após duas semanas de impasse provocado pelo bloqueio às exportações de sapatos para a Argentina, em decorrência da adoção do regime de licenças não-automáticas para a importação do produto, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) pediu que o governo brasileiro adote medidas de retaliação contra os argentinos. A entidade espera uma solução imediata para o caso na reunião de hoje entre representantes dos dois países na sede do BNDES, no Rio. "O governo tem que tomar uma atitude mais enérgica e barrar os produtos deles também", disse o presidente da Abicalçados, Élcio Jacometti, citando o setor lácteo como alvo de possível retaliação. Até agora as negociações pelo lado brasileiro têm sido conduzidas pelo secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, junto ao secretário da Indústria argentino, Miguel Peirano. A Abicalçados divulgou nota em que se diz "indignada" com a "incapacidade" do governo brasileiro em solucionar o impasse. De acordo com o documento, "há um sentimento de decepção do setor quanto à eficácia da estratégia governamental porque, passados em torno de 15 dias da deflagração da crise, as iniciativas do governo não estão produzindo nenhum efeito". Conforme Jacometti, 700 mil pares de calçados destinados à Argentina estão parados nas aduanas ou nos depósitos das transportadoras. A preocupação é que se os produtos não forem liberados no início da próxima semana não haverá tempo de distribuí-los no varejo argentino antes do Dia das Mães, que no país vizinho é comemorado em 20 de outubro e tem vendas semelhantes às do Natal. "Vamos perder, por baixo, de 1 milhão a 1,5 milhão de pares em vendas para a Argentina neste mês", calcula Jacometti. Em setembro de 2004, o Brasil exportou 2,5 milhões de pares à Argentina. Em todo o ano passado, os embarques para aquele mercado somaram 15,3 milhões de pares e US$ 104,6 milhões, expansão de 31% em volume e de 45% em faturamento. Se não houver uma solução rápida para o problema, o presidente da Abicalçados estima que as exportações para a Argentina neste ano não passarão de 10 milhões de pares. Até julho haviam sido embarcados 6,6 milhões de pares por US$ 61,5 milhões, com altas de 19% e 8% sobre o mesmo período de 2004, respectivamente.