Título: Planalto pressiona Chinaglia a renunciar por frente contra Nonô
Autor: Raymundo Costa e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2005, Política, p. A4

Convencido de que a força do candidato da oposição José Thomaz Nonô (PFL-AL) reside no sentimento anti-PT da Casa, o Palácio do Planalto e líderes aliados desencadearam uma ofensiva para que o candidato do partido, Arlindo Chinaglia (SP) renuncie em favor de um nome que possa unir os partidos que apóiam o governo em torno de uma candidatura única à presidência da Câmara. A primeira tentativa de entendimento, no entanto, fracassou: reunidos na casa do presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), os líderes da base aliada bem que tentaram, mas não conseguiram convencer o PT dos riscos da candidatura própria. Na avaliação da sigla, a escolha do novo presidente será uma "eleição plebiscitária" na qual o governo tenderia a sair vitorioso sobre as oposições. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou ontem com Chinaglia sobre a conveniência da candidatura única. Outros emissários do presidente tentaram convencer o deputado de que é imprevisível o que pode acontecer com uma candidatura petista, seja como o único nome da base, seja em eventual segundo turno. Sem êxito. O PT avalia que é humilhante não ter candidato e aposta que, num quadro segmentado, coloca Chinaglia no segundo turno com seus próprios votos e de parte do PP e do PL, partidos no epicentro do escândalo do mensalão com os quais o deputado manteve boas relações. A forte rejeição a um nome do PT e a dificuldade em encontrar interlocutores com credibilidade para negociar com partidos na Câmara são claros indicativos da desarticulação governista e da falta de coesão dos aliados em torno de um mesmo projeto político. Dez nomes já se apresentaram para a disputa, mas a expectativa é que até terça-feira persistam cerca de quatro candidaturas. Até o momento, a mais sólida delas é a de José Thomaz Nonô (PFL-AL), que já se articula para a disputa em segundo turno. A candidatura do presidente do PMDB, Michel Temer (SP), dá sinais de fragilidade - a ala governista do partido já se articula para apoiar uma eventual candidatura do ex-ministro Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A eleição será na quarta-feira, às 10h. O segundo turno, praticamente inevitável, será realizado no mesmo dia, às 18h. Sob a supervisão de Lula, os aliados vão tentar trabalhar um nome ao longo do fim de semana. Lula e o presidente do Senado, Renan Calheiros, encontraram-se na noite quarta-feira para analisar a candidatura de Temer. O presidente deixou claro que não tinha nenhuma objeção à eleição do pemedebista, mas fez ponderações. O governo considera difícil convencer o PT a votar em Temer. Além disso, Temer não obteve o apoio esperado do PFL e não demonstrava-se capaz de atrair de forma significativa votos da bancada tucana. Temer, no entanto, ainda se esforça para se viabilizar. A ala pemedebista ligada ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso bem que tentou dividir os tucanos. FHC foi contatado por Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e Eliseu Padilha (PMDB-RS). Mas o ex-presidente sondou a bancada na Câmara e foi informado de que era tarde demais para migrar para o PMDB. "A candidatura do Temer virou pó. Ele não conseguiu ampliar para o PSDB e não compõe totalmente com a ala governista do PMDB", explicou um líder da base. Nas conversas de Renan e do ex-presidente José Sarney (AP) com o Planalto, concluiu-se que seria viável a candidatura de Aldo Rebelo, que poderia atrair mais de 40 votos do PMDB governista. Aldo seria lançado por seu partido, o PCdoB, e logo apoiado pelo PSB e pelos governistas do PMDB. O próprio Aldo, no entanto, brecou o movimento, enquanto analisa melhor as possibilidades. Por seu turno, a oposição considera cada vez mais sólida a candidatura de Nonô. Os governadores tucanos Aécio Neves (MG) e Geraldo Alckmin (SP) conversaram por telefone com o pefelista e endossaram o apoio. Nonô, que oficialmente já tem os votos do PFL, PSDB e PPS, conversa com o PDT, PTB e segmentos do PT. Ele já se aproxima, por exemplo, dos parlamentares do Movimento Câmara Forte, que lançou o petista Virgílio Guimarães (MG) na eleição passada e dividiu o PT. O pefelista e o mineiro conversaram ontem. Thomaz Nonô tem a seu favor o fato de ocupar a vice-presidência. Se eleito presidente da Casa, o atual cargo fica vago. Terá que ser feita nova eleição também para a vice. Numa cena de política explícita, o deputado Nélson Marquezelli (PTB-SP) fez a seguinte sugestão para o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA): "Vamos negociar a vice para o PTB e fechar com o Nonô no segundo turno?", propôs. Enquanto o governo patina na desarticulação política - e tenta superar inúmeros obstáculos para unificar a base em torno de um único nome -, a oposição leva vantagens. PFL e PSDB dão uma demonstração de coesão em torno da candidatura Nonô, apesar das suspeitas de bastidores sobre a fidelidade tucana. O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), explica o fenômeno: "Nós estamos construindo aqui, ao longo de votações, traços de afinidade robustos. Exercitamos isso diariamente e com afinco. O governo, por outro lado, não tem força para nada". O cenário ainda é imprevisível, segundo os políticos mais experientes do Congresso. Até ontem, tinham lançado candidaturas, além de Chinaglia, Temer e Nonô, os seguintes deputados: Ciro Nogueira (PP-PI), Francisco Dornelles (PP-RJ), Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP), Jair Bolsonaro (PP-RJ), Alceu Collares (PDT-RS), Beto Albuquerque (PSB-RS) e João Caldas (PL-AL). Inocêncio Oliveira (PL-PE) pode se tornar o décimo primeiro. A candidatura de Ciro Nogueira começou a preocupar até a oposição. Para pefelistas e tucanos, a candidatura do pepista - que representaria a continuidade da gestão Severino na Casa - pode se viabilizar. "A Mesa Diretora é uma espécie de casa de caridade, e aqui temos a bancada dos sem-mesa", brincou um parlamentar da oposição. Alguns nomes que surgem no cenário preocupam os parlamentares por colidirem com a necessidade de recuperação de imagem da instituição. "Se não tomarmos cuidado, a Câmara podemos eleger um Severino reencarnado, só com um novo nome e um novo rosto", definiu Aleluia (PFL-BA), negando-se a admitir que falava de Ciro Nogueira. O deputado do PP, que é corregedor, é considerado por Severino como uma espécie de "filho adotivo". A eleição de Ciro representaria a manutenção do baixo clero no poder.