Título: Valim, da Net, é o nome mais cotado para presidência do Pão de Açúcar
Autor: Christiane Martinez e Daniela D'Ambrosio
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2005, Empresas &, p. B2

A escolha do futuro presidente do grupo Pão de Açúcar tornou-se um desafio. Vários nomes já foram sondados pela empresa de contratação de executivos Heidrick & Struggles, mas o nome ainda não foi definido. E, até agora, há pelo menos uma forte indicação: o novo presidente do grupo não deverá ser do varejo. Um dos nomes mais cotados é Francisco Valim, presidente da Net. Mas por que uma empresa líder de mercado, que fatura R$ 15,3 bilhões, com ganho operacional de R$ 1 bilhão e lucro de R$ 369 milhões ainda não tem um novo comandante? É consenso entre os especialistas na contratação de executivos que buscar um profissional para uma posição desse nível exige cautela e tempo. Mais que isso: exige autonomia de vôo. Algo delicado no Pão de Açúcar, que tem o comando firme do seu maior acionista, Abilio Diniz. "Por melhor que seja o executivo, é muito difícil conhecer mais do varejo e da própria empresa do que Abilio", diz um especialista. Abilio chamou para si a responsabilidade de escolher o novo comandante do seu grupo e ele mesmo tem conversado com alguns executivos. A personalidade forte do empresário já afastou mais de um candidato, segundo um influente consultor. No dia-a-dia do negócio, Abilio é um chefe duro e obstinado por resultados. Nesse caso, o nome de Valim ganha destaque. Ele reestruturou a dívida da Net e ainda conseguiu conquistar um sócio estratégico, a Telmex, que adquiriu 49% do capital da operadora de TV a cabo, cujo controle continua nas mãos da Globopar. "Ele tem experiência em empresas com sociedades múltiplas", observa uma fonte do setor. Valim, cujo contrato com a Net venceu em fevereiro, também conta com a simpatia de Philippe Reichstul, ex-Petrobras, ex-Globopar e atual membro do conselho de administração do Pão de Açúcar, ao lado de nomes como Maria Silvia Bastos Marques, ex-CSN. No páreo de uma lista inicial que contou com pelo menos dez nomes também está Antonio Maciel Neto, presidente da Ford América do Sul. Valim e Maciel negam. Maciel foi cotado para o comando do Pão de Açúcar desde que perdeu um dos dois cargos que acumulava na Ford. Desde 1º de setembro, ele deixou a presidência da Ford do Brasil, que responde por 75% dos negócios da montadora no Mercosul, e foi para o comando geral da América do Sul. O americano Barry Engle assumiu a Ford Brasil. Apesar de ser um nome sempre lembrado quando um grande cargo está vago, Maciel estaria em um posição de maior visibilidade na América Latina. Jean Duboc, que já trabalha na empresa, igualmente tem o seu nome lembrado. A seu favor contam os 25 anos que ficou no Carrefour em diferentes países, inclusive como presidente da operação no Brasil. Contra ele, porém, pesa a nacionalidade. Duboc é francês e a sua escolha esbarra na preocupação do grupo com o futuro do Pão de Açúcar. "Um francês na presidência vai gerar suspeitas de que o controle do Pão de Açúcar será assumido definitivamente pelo sócio francês Casino", diz uma fonte. Um consultor que conhece bem Diniz afirma que Duboc teria a aprovação da família. Mas a contratação da Heidrick & Struggles teria sido exigência dos sócios franceses. O Casino não tem rejeição ao nome do Duboc, mas gostaria de ouvir outros executivos. "O executivo que aceitar o cargo tem que ter consciência de que terá de trabalhar sob a sombra do Abilio", diz um executivo do varejo. A saída de Augusto Cruz, que ficou 11 anos na empresa, também alimentou a informação de que Abilio é centralizador e interfere na gestão do principal executivo.