Título: Novas iniciativas dão alento ao setor
Autor: Ricardo Cesar e João Luiz Rosa
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2005, Empresas &, p. B3

Ao mesmo tempo em que a Itautec anuncia a saída parcial do negócio de semicondutores, novos empreendimentos dão um sopro de esperança para o setor no Brasil. O principal exemplo vem da americana Smart Modular Technologies, que anunciou investimentos de US$ 35 milhões em quatro anos para montar uma fábrica em Atibaia (SP). Somente em 2005, serão aplicados cerca de US$ 11 milhões. No dia 29 de agosto, a empresa deu início às obras, que consistem na adaptação das instalações de um prédio já existente. A previsão é concluir os trabalhos em dezembro e iniciar a produção em janeiro de 2006. A fábrica fará circuitos integrados de memória para computadores, notebooks, impressoras e modens, além de telefones celulares. O foco principal será o mercado doméstico, mas o excedente será exportado. A Smart tem parceria com a Samsung, de quem compra as lâminas de silício usadas em sua produção. Embora considere o apoio do governo ainda tímido, Noboru Takahashi, presidente da Smart, enumera algumas razões que encorajaram a empresa a investir na nova fábrica. A inclusão dos semicondutores no Regime Aduaneiro de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado (Recof), um regime alfandegário especial em que a mercadoria é importada diretamente para a fábrica e é exportada sem impostos, é uma das mais importantes. Outro fator é a crescente fabricação de computadores e telefones celulares no Brasil, tanto para abastecer o mercado interno como para exportação. "Isso cria uma demanda por semicondutores que justifica os planos para investir nessa área. Se começarem a aparecer outros mercados, como a televisão digital, teremos um bom impulso", diz Takahashi. "Estamos pegando carona nisso, apostando que as fábricas do Brasil abastecerão cada vez mais toda a América Latina." Outra iniciativa é do empresário Wolfgang Sauer, ex-presidente da Volkswagen no Brasil, que há alguns anos estuda a viabilidade de trazer investimentos de alta tecnologia para o país. Sauer planeja criar a Companhia Brasileira de Semicondutores (CBS), uma empresa-âncora que permitiria o estabelecimento de um pólo produtivo do setor nas proximidades de Belo Horizonte (MG). O projeto conta com apoio direto do governo mineiro, que há um ano e meio ajuda o empresário a elaborar o plano de negócios - um trabalho que Wilson Brumer, secretário do Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais (Indi), diz que já consumiu investimentos de R$ 6 milhões. Trata-se de um valor modesto perto do montante necessário para começar a viabilizar a iniciativa: algo próximo de US$ 500 milhões, pelos cálculos de Sauer. "Depois do nosso passo, muitos outros vão seguir o caminho de investir em semicondutores", diz o empresário. "Queremos produzir chips feitos sob medida, algo que Intel não faz. Já conversamos com empresas como a Siemens, que devem delegar os clientes pequenos para nós. Já temos contatos nos EUA e Europa e acho que em breve chegaremos a um volume pré-vendido de 50%", diz. Apesar do discurso entusiasmado, hoje a CBS e o pólo de semicondutores não passam de um plano conjunto de Sauer e do governo mineiro riscado no papel. Para tornar-se realidade, a iniciativa depende de diversas fontes de financiamento, sobretudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que informou apenas estar analisando o projeto. Outro fator importante para viabilizar a iniciativa é a presença de investidores privados. Para isso, no dia 24 de setembro Sauer embarca para uma série de reuniões na Califórnia (EUA), conversando com potenciais interessados em adquirir participação na CBS. A expectativa do empresário é que a rodada abra caminho para obter até US$ 250 milhões de fundos de investimento. Os próximos meses serão cruciais. Se não houver investimentos, o projeto será simplesmente abortado. Se o plano deslanchar, Brumer, do Indi, acredita que produção começaria dentro de aproximadamente quatro anos. A idéia é reunir nas imediações do Aeroporto Tancredo Neves uma série de empresas que façam parte da cadeia produtiva de semicondutores. O local é estratégico, pois o plano prevê exportar algo próximo a 80% da produção, abastecendo o mercado interno com o restante. (RC)