Título: Carga tributária é um dos problemas
Autor: Ricardo Cesar e João Luiz Rosa
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2005, Empresas &, p. B3

Além da falta de uma política industrial para o setor, três outros pontos prejudicam a produção de semicondutores no Brasil, afirmam profissionais do setor. Um dos mais importantes é a insuficiência de pessoal especializado na indústria. "Falta mão-de-obra qualificada", observa Herberto Yamamuru, diretor da NEC. Existem três ramos de atividade para especialistas em semicondutores, explica Yamamuru. Para um deles, o de desenvolvimento, ainda existe uma oferta razoável de profissionais formados em universidades de primeira linha como USP e Unicamp. Já para as áreas de controle de qualidade e de processos, eles simplesmente não existem, diz o executivo. Essa percepção é confirmada por Wanderley Manzano, que além de presidir a Aegis é diretor de componentes eletrônicos da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). "Entre engenheiros, físicos e químicos, só há cerca de 400 profissionais especializados em semicondutores com nível de mestre ou doutor. E isso contando empresas e universidades. Na França, são formados cerca de mil por ano", compara. Os outros dois grandes vilões, segundo os executivos da indústria, são a logística do país, especialmente a burocracia na entrada dos insumos e a saída dos produtos acabados, e a carga tributária. Segundo Manzano, só para tirar da alfândega a lâmina de silício - o insumo básico para a produção -, os fabricantes pagam em impostos o equivalente a 72% do preço FOB, o valor pago pelo produto no exterior, sem o frete. "Além de pesada, a tributação é complexa", afirma Yamamuru, da NEC. "Existem três esferas - a municipal, a estadual e a federal -, cada uma delas com regras muito específicas." Dependendo do caso, importar os insumos é proporcionalmente mais caro do que importar o produto final, o que desestimula a indústria local. A Aegis paga 12,5% de Imposto de Importação do ácido fluorídrico, usado para a fabricação do diodo, que tem aplicação na indústria de semicondutores. Já a alíquota do próprio diodo é de 6%, compara Manzano.