Título: Sindicatos partem para o ataque ao Wal-Mart no país
Autor: Claudia Facchini
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2005, Empresas &, p. B4
Varejo Primeira bandeira é conter os planos de expansão da companhia
Os sindicatos dos comerciários brasileiros decidiram abraçar a luta de seus colegas americanos contra as práticas trabalhistas do Wal-Mart e prometem colocar uma pedra no sapato da multinacional americana no país. A primeira bandeira já foi eleita. Os sindicatos dizem que vão atrapalhar o quanto puderem os planos de expansão da gigante do varejo, que está perto de comprar os supermercados do grupo Sonae no país . O Wal-Mart já teve acesso e analisou os livros da rede portuguesa, que é líder na região Sul. Neste momento, as duas partes buscam aparar as últimas arestas em relação ao preço, segundo fontes que conhecem a situação. "Não há dúvida de que o tratamento dado aos trabalhadores no Brasil é melhor do que lá, nos EUA", admite o próprio presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah, ligado à Força Sindical. "Mas nos preocupa o futuro. Como será quando o Wal-Mart tiver um maior poder econômico?", acrescenta. A entidade é hoje o maior sindicato do país. A idéia, diz Patah, é fazer um dossiê contra o Wal-Mart que possa ser levado ao Ministério Público ou às autoridades anti-truste para impedir uma eventual a compra do Sonae. Liderada por sindicalistas e ONGs, a campanha anti-Wal-Mart é considerada uma das maiores e bem-organizadas mobilizações contra uma empresa já realizadas nos EUA. Pelas leis americanas, os funcionários de cada loja precisam legitimar o poder dos sindicatos. O Wal-Mart proíbe a sindicalização. O Wal-Mart chegou ao país em 1995. Até agora, o seu relacionamento com os trabalhadores transcorreu sem grandes conflitos. Aqui, a multinacional paga salários dentro da média do mercado e oferece benefícios para todos os seus funcionários, como assistência médica e seguro de vida. A multinacional também concede participação nos lucros e adere aos acordos fechados pelos sindicatos com várias empresas de varejo. Mas a convivência não é nenhum mar de rosas. Segundo Patah, apenas 48 funcionários do Wal-Mart na capital paulista são sócios do sindicato, cuja mensalidade é de R$ 14. "No Pão de Açúcar, temos 1,25 mil sócios. No Carrefour, também são mais de mil", diz Patah, para quem o pequeno número de sócios do Wal-Mart é um sintoma da pouca abertura da empresa ao diálogo com os sindicatos. "O Wal-Mart mantém um relacionamento cordial e profissional, pautado pela ética e transparência, com os mais diversos sindicatos do Brasil. A filosofia de relações trabalhistas da empresa prevê a atuação dentro da legislação, regulamentações e práticas negociais de cada localidade. Ao todo, a empresa se relaciona com mais de 30 entidades sindicais em todo o país", respondeu a varejista ao Valor, por meio de sua assessoria de imprensa. A queda-de-braço da rede com os trabalhadores americanos está ganhando o mundo e conquistando a solidariedade de outros sindicatos. "Estamos pensando em reservar uma área em nosso prédio para eles (os sindicalistas americanos)", diz Patah. Funcionários e sindicalistas brasileiros devem, inclusive, aparecer em um filme-denúncia que está sendo produzido contra o Wal-Mart nos EUA. Intitulado "Wal-Mart: The High Price of Low Cost", o filme será lançado no fim do ano.