Título: PSDB quer Tasso na presidência para costurar apoio do PFL
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2005, Política, p. A6

Crise Partido quer antecipar para o início de novembro convenção que escolherá novo presidente

Enquanto a sucessão do presidente petista Tarso Genro vive um suspense, sem que tenha se concluído a apuração dos mais de 300 mil filiados que participaram da escolha, a eleição do novo comando tucano, que será oficializada em novembro, está praticamente concluída, com um colégio eleitoral consideravelmente menor, capaz de se reunir em volta de uma mesa de jantar. Salvo uma enorme surpresa, o senador Tasso Jereissati (CE) voltará ao comando da sigla que já teve há dez anos. Tasso terá que dar garantias de imparcialidade em relação aos presidenciáveis de 2006. Um encontro na semana passada, entre Serra e Tasso e com a participação de outras lideranças tucanas, fechou os últimos detalhes para a sagração de Tasso como novo presidente da sigla, em troca de uma posição de equilíbrio do cearense na disputa pela candidatura entre Alckmin e o prefeito. Tratou ainda de um ponto delicado: a antecipação da convenção do final para o início do mês de novembro, de forma a que Tasso já seja o presidente da sigla quando o programa de rádio e televisão do PSDB for ao ar. O tema será negociado com o presidente em exercício da sigla, senador Eduardo Azeredo (MG), que foi envolvido no noticiário à respeito do financiamento a campanhas eleitorais intermediado pelo publicitário Marcos Valério. Segundo dirigentes tucanos, Fernando Henrique Cardoso também é presidenciável, mas apenas nas hipóteses, ainda remotas, de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou de sua desistência em concorrer, em razão do agravamento da crise. Nestes cenários, o ex-presidente poderia emergir como candidato sem disputa com outros dirigentes. O jantar foi o primeiro movimento para o partido tentar apresentar-se unido no ano que vem, algo essencial para o novo presidente tucano começar a negociar a reedição da aliança com o PFL, posição para qual Tasso é visto como o interlocutor ideal. Tasso era o presidente do partido no início de 1994, quando fechou o acordo para a coligação entre tucanos e pefelistas em torno de Fernando Henrique e Marco Maciel. A primeira manifestação a favor do nome do cearense partiu de seus colegas de bancada. "Logo que o Serra se licenciou, consensuamos que o candidato deveria ser o Tasso", disse o senador Álvaro Dias (PR), um dos vice-presidentes tucanos. Logo ganhou o apoio da maioria dos governadores, especialmente o de Alckmin e do governador mineiro Aécio Neves. O fator regional pesou ainda a favor de Tasso. "O partido não pode reservar todos os espaços para São Paulo. Já é um fato que o candidato presidencial será paulista, portanto o presidente, que vai coordenar a escolha , precisa ser de outra região do País", disse outro vice-presidente da sigla, deputado Carlos Alberto Lereia (GO), ligado ao governador goiano Marcone Perillo. Caso não houvesse um acordo entre o grupo serrista e Tasso em torno da condução imparcial da escolha do candidato presidencial, Perillo seria lançado para comandar a sigla. A eleição de Tasso Jereissati para a presidência nacional, em novembro, "será tão tranquila quanto a eleição do Papa Bento XVI", conforme a definição do presidente do Instituto Teotônio Vilella, o deputado Sebastião Madeira (MA). Mas o caminho até a definição final foi acidentado. Segundo aliados do senador, esperava-se esta solução para o início deste ano, com a renúncia de Serra da presidência do partido e a escolha de um novo presidente. Serra não renunciou. Licenciou-se e deixou o vice-presidente, senador Eduardo Azeredo (MG) no comando da sigla interinamente. Havia a intenção, não encampada pelo prefeito, mas defendida por alguns de seus aliados, de prorrogar o mandato interino de Azeredo até março, de forma a coincidir a escolha do candidato com a renovação da direção. O envolvimento de Azeredo no noticiário de financiamento de campanhas pelo publicitário Marcos Valério tornou a prorrogação politicamente inviável. Logo após a eleição de Serra para a prefeitura em 2004, Tasso foi o primeiro dirigente tucano a dizer que Alckmin era candidato natural do partido à presidência. A declaração fez com que ao longo de todo este ano o grupo serrista do PSDB buscasse do senador cearense garantia de imparcialidade na condução do processo sucessório. O excelente desempenho de Serra nas pesquisas de intenção de voto, em que este aparece empatado com Lula em primeiro lugar, enquanto Alckmin está empatado com Anthony Garotinho (PMDB) em segundo, fez com que o próprio grupo tassista diminuísse o entusiasmo pelo governador. "Geraldo Alckmin continua sendo o nosso candidato natural à presidência, mas é evidente que se as circunstâncias demonstrarem o que as pesquisas mostram hoje, vamos buscar o Serra em São Paulo para ser o nosso candidato", disse o secretário-geral da sigla, o deputado cearense Bismarck Maia. A dianteira nas pesquisas é o grande argumento que o grupo serrista dispõe para manter o nome do candidato tucano em aberto até o próximo ano. Caso Alckmin suba nas pesquisas, fragilizará muito uma pretensão presidencial do prefeito. "Se as pesquisas mostrarem que tanto um como o outro pode ganhar do Lula, a candidatura vai ficar com o Alckmin, que está terminando o mandato", disse Sebastião Madeira. Os próprios tucanos mais próximos ao prefeito reconhecem que a candidatura do governador provoca menos constrangimentos políticos. "A candidatura do Serra não é a mais natural do mundo", disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). Um dos pontos tratados no jantar das lideranças tucanas é o calendário da sucessão. Busca-se uma garantia de que Tasso Jereissati irá coordenar o partido de forma a definir o candidato presidencial até março, três meses antes do prazo legal para a convenção. A realização de um ato ou mesmo uma pré-convenção do partido em março é fundamental tanto para Serra quanto para Alckmin, em razão do prazo final para a desincompatibilização em 2 de abril. O prefeito não aceitará renunciar ao mandato, com apenas quinze meses de governo, sem a certeza da candidatura. O governador também só deverá deixar o cargo caso possa concorrer a presidência.