Título: Lula destaca "comportamento ético" de Apolônio
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2005, Política, p. A9

No momento em que o PT vive sua mais aguda crise, com o comportamento ético de vários membros da cúpula partidária sob suspeita, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, após participar da cerimônia de cremação do corpo de Apolônio de Carvalho, primeiro petista a assinar a ficha de inscrição do partido, que o velho militante, morto na sexta-feira passada aos 93 anos, "significava o primeiro símbolo da coerência, do comportamento ético e da maturidade política". Apolônio foi cremado com as bandeiras do Brasil, Espanha e França, os três países aos quais dedicou sua militância política, além da do PT e a do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Lula chegou às 10h27 ao cemitério do Caju (zona norte do Rio), onde estava sendo velado o corpo de Apolônio, acompanhado da mulher, Marisa, do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, e do chefe da Assessoria Especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia. Cumprimentou os dois filhos de Carvalho, Renê e Raul, ficou cerca de dez minutos no velório e depois seguiu para o local da cremação, onde aguardou o cortejo de cerca de 200 pessoas que chegaram ao local da cerimônia às 11h, cantando o Hino Nacional. Na saída, o presidente aceitou falar com os jornalista apenas sobre a morte de Apolônio. " Quem conviveu nos últimos 30 anos com Apolônio sabe que não é o Brasil quem perde, é o mundo que perde um cidadão com todas as letras maiúsculas. " Apolônio foi realmente um militante internacional pelo socialismo e contra os regimes ditatoriais. Militar, foi fortemente influenciado pelo movimento tenentista da década de 1920. Em 1935, integrou o fracassado levante dos comunistas brasileiros contra o regime do presidente Getúlio Vargas. Dois anos depois, viajou clandestino em um navio para a Espanha com o objetivo de se engajar na guerra civil espanhola do lado dos republicanos, cuja derrota marcou o início da ditadura do general Francisco Franco na Espanha. Na segunda Guerra Mundial estava na França lutando ao lado dos maquis, como eram chamados os membros da Resistência Francesa à ocupação da Alemanha nazista. Na guerra, conheceu a francesa Renée Langery, mãe dos seus dois filhos. Em 1968, durante o regime militar (1964-1985), rompe com o PCB, que era contra a resistência armada ao regime e funda o Partido Comunista Revolucionário Brasileiro (PCBR) que se engaja na luta armada. Preso, vai para o exílio em 1970, libertado em troca do embaixador alemão Ehrenfried Von Holleben, seqüestrado por militantes de esquerda. Anistiado em 1979, retorna ao Brasil e, no ano seguinte, no dia 10 de fevereiro, participa da reunião que fundou o PT, principal resultado político das greves operárias lideradas por Lula a partir de 1978. Foi vice-presidente do partido até 1987, afastando-se por razões médicas. " Poucas pessoas viveram como ele a história do Brasil e do mundo com tanta intensidade. E fez tudo isso sendo um das pessoas mais amáveis e carinhosas que vi em toda minha vida " , resumiu o ministro Dulci ontem, antes da cerimônia de cremação. Outras lideranças petistas estiveram no velório de Apolônio, como o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o deputado federal José Dirceu (PT-SP), um dos pivôs da crise.