Título: Furlan negocia abertura dos EUA para etanol
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2005, Brasil, p. A5

Relações Externas Crise de abastecimento de petróleo pode ajudar o país a vender combustível alternativo

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, acredita que a crise do petróleo ajude o Brasil a negociar a venda de etanol para os Estados Unidos. Furlan teve encontros ontem com o secretário de Energia dos EUA, Samuel Bodman, e com o representante comercial (United States Trade Representative), Robert Portman, e disse que tentaria novamente apresentar vantagens do combustível. "O etanol pode ajudar num momento de crise de preços e de abastecimento", disse Furlan. Ontem, o presidente George Bush fez um apelo aos americanos para que economizem gasolina, reduzindo o número de viagens desnecessárias. "Todos podemos ajudar economizando", afirmou, depois de uma reunião no Departamento de Energia. "As pessoas precisam reconhecer que os furacões causaram interrupções no suprimento", disse. Bush pediu que os funcionários federais combinem caronas ou usem transporte público. Os preços de gasolina subiram com mais força no Texas, mais atingido pelo furacão. O preço médio da gasolina chegou a US$ 2,80 por galão (3,78 litros) ontem. Furlan acredita que a escassez de combustível nos EUA, que ficou evidente durante os dois furacões enfrentados pelo Sul do país, demonstram que há uma oportunidade de contrabalançar as pressões protecionistas dos produtores de etanol a partir de milho nos EUA. "A questão é que o custo dos subsídios faz com que haja uma concentração do sistema produtivo", diz Furlan. Ainda estão em construção usinas de etanol produzido a partir de milho, com grande volume de subsídios do governo federal. Apesar de ter um custo muito mais baixo que o americano - por ser produzido a partir da cana-de-açúcar -, o etanol brasileiro é barrado por ser objeto de uma taxa de US$ 0,54 por galão na importação. Furlan acredita que a necessidade de redução do déficit público nos EUA pode pesar na consideração de uma maior abertura americana ao etanol. "Vamos colocar nossa experiência à disposição", afirmou. A demanda por etanol está crescendo nos Estados Unidos, à medida que mais Estados adotam misturas obrigatórias de etanol à gasolina por questões ambientais. A Califórnia, por exemplo, começará a exigir uma mistura de, no mínimo, 10% de etanol na gasolina, e há uma coalizão de 30 governadores nos EUA discutindo maior uso de etanol nos Estados. "Embora os Estados Unidos não tenham aderido ao protocolo de Kyoto, alguns Estados estão adotando padrões até mais rigorosos que os do protocolo, como a Califórnia", disse. Numa missão recente à Califórnia, algumas fábricas de automóveis, de capital americano, enviaram representantes brasileiros para apresentação dos motores "flex fuel", que circulam com qualquer mistura de gasolina e álcool e já representam mais de 60% das vendas de veículos novos no Brasil. Hoje, Furlan terá reunião com o secretário do Comércio, Carlos Gutierrez, e participa de um outro seminário sobre economia brasileira em Washington, no US-Brazil Business Council.