Título: Lula tenta, de novo, encontro para integrar países da América do Sul
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2005, Brasil, p. A5

Na tentativa de reforçar sua liderança na região, o Brasil sedia, na próxima sexta-feira, a criação da Comunidade Sul-Americana das Nações. O encontro acontece em Brasília e vai reunir os doze países da região. Paralelo ao encontro oficial, haverá uma reunião com representantes das áreas financeira, da aviação e de comunicação para tentar envolver a iniciativa privada e as estatais na proposta de integração. O encontro, contudo, já têm baixas: os presidentes da Colômbia, Suriname e Guiana já avisaram que vão mandar representantes. A imprensa argentina também noticiou que o presidente Nestor Kirchiner, que passa por uma disputa eleitoral, só virá ao evento se conseguir finalizar acordos com a Venezuela, que lhe garantam dividendos políticos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem, no seu programa semanal de rádio, o esforço de aproximação com os vizinhos. "As exportações brasileiras para a América do Sul nesses 30 meses praticamente dobraram. Aumentaram 98,4%", afirmou. Lula ressaltou que a pauta de exportações também tem se diversificado para o comércio de produtos manufaturados e citou como exemplos o telefone celular, carro e autopeças. O interesse brasileiro pela região se justifica: o comércio com os oito principais países mostra déficit comercialpara o Brasil apenas no caso da Bolívia, por conta da importação do gás natural. Nos demais, o país tem amplo superávit. A idéia de criar uma Comunidade Sul-Americana de Nações surgiu em 2004, no Peru. Desde então, os presidentes e chanceleres da região têm se reunido para dar forma ao projeto. "Não queremos fazer um processo como o da União Européia. Não podemos partir desta idéia porque no estágio de integração em que nos encontramos, isso seria irreal", afirmou o embaixador do Itamaraty, Luiz Felipe de Macedo Soares. Macedo Soares afirma que a função da Comunidade será se debruçar sobre os aspectos que dificultam a integração da região, uma das metas do presidente Lula para sua política externa. Os principais empecilhos estão nas áreas de transporte, comunicações e energia. Para tentar remover estes obstáculos e melhorar a disponibilidade de investimentos privados na área de infra-estrutura, o Itamaraty organizou uma reunião paralela com o setor financeiro da região, que vai incluir bancos públicos, privados e de fomento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Haverá também uma reunião com as companhias aéreas da região e o setor de turismo para tentar incrementar o trânsito de turistas e facilitar o acesso entre as principais capitais da região. Na quarta-feira em Caracas (Venezuela), os ministros da área de energia dos 12 países se reúnem para discutir soluções conjuntas para o setor. O embaixador Macedo Soares acredita a crise política pela qual passa o governo brasileiro não irá contaminar a reunião. "Países não deixam de perseguir agendas de cooperação pelas vicissitudes internas de parceiros", argumenta. Mas é certo que o tema corrupção será discutido na agenda dedicada à integração cultural. O encontro terá um a reunião paralela com os cartunistas dos 12 países. O evento também discutirá a produção televisiva da América do Sul como forma de melhorar as trocas culturais que levem à aproximação econômica e social.