Título: Aldo mantém candidatura e se apresenta como 'independente'
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2005, Política, p. A6

Na tentativa de evitar que qualquer atuação do Palácio do Planalto possa provocar um drástico efeito colateral à sua candidatura, o ex-ministro Aldo Rebelo (PCdoB-SP) registrou-se oficialmente candidato ontem - afastando os rumores de que poderia desistir da disputa - e apresentou-se como um nome que defenderá a instituição com independência. Ele propõe que, na quinta-feira, um dia após a eleição, a Câmara vote a reforma eleitoral elaborada pelo Senado. O prazo final para o texto ser apreciado é sexta-feira. "Não é a relação de partidos com o governo que deve presidir o debate da escolha à presidência da Câmara", afirmou Aldo. Os articuladores políticos da candidatura do deputado contavam ontem com 180 votos, um placar excessivamente otimista pelos cálculos da oposição. O representante das oposições, José Thomaz Nonô (PFL-AL), teria, com base nessa aritmética, 130 votos. A expectativa governista é que o PL oficialize hoje apoio a Aldo Rebelo. O ex-ministro participou ontem de reunião da bancada do PT, deixando para trás uma tensa relação com integrantes da legenda que não o aceitavam no posto de principal articulador político do presidente Lula. "Espero os votos de toda a bancada do PT", disse. Na prática, a vinculação da candidatura de Aldo Rebelo com o Palácio do Planalto é evidente. Os ministros do PMDB e do PL trabalham intensamente para tentar convencer os parlamentares a votarem em Aldo. O presidente nacional do PMDB, Michel Temer, deve mesmo desistir da candidatura e ameaça apoiar Nonô. O governo, no entanto, trabalha para evitar a aliança pemedebista com PFL e PSDB. A avaliação da cúpula do PMDB é que Temer não leva para o PFL nem 30 deputados. O ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, é um dos encarregados de dialogar com Temer. "O PMDB está muito integrado com o governo e a interlocução do governo com o partido está muito mais dinâmica", garantiu ontem o ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), após conversa com o presidente do Senado, Renan Calheiros. O presidente do Senado sinalizou ontem que a candidatura de Temer não se viabilizou, embora ele seja um com nome para representar a instituição. O governo busca interlocução com a ala oposicionista do PMDB por várias vias, inclusive, com o auxílio de deputados como Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), aliado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no governo passado. Nonô segue otimista. O pefelista considera que uma candidatura que possui, na largada, um patamar de 100 votos é expressiva. Esses seriam os casos dele e de Aldo, por enquanto. O representante oficial das oposições espera uma decisão oficial do PDT favorável à sua candidatura. Apesar da aproximação com Temer, o pefelista disse que considera um cenário "em que todos serão candidatos". O cenário permanece fragmentado e imprevisível na Câmara, mas os principais candidatos à presidência estão conscientes de que a relação partidária não será tão decisiva nessa eleição. Por isso, a busca é voto a voto, e cada deputado é consultado individualmente, independente das orientações de cúpula. Questões locais também vão influenciar na escolha, dizem os articuladores. "É preciso ter humildade e trabalhar o voto de cada deputado com respeito", analisou o ministro Luiz Dulci. Aldo disse ontem que a sua passagem pelo Ministério da Articulação Política e a experiência como líder do governo na Casa não são fatores decisivos para guiar os votos dos colegas. "Não acredito que o fato de o candidato ter sido de governo ou de oposição possa ter influência. Os deputados não julgam a partir desse critério. Julgam quem tem as melhores condições de representar os interesses da Casa naquele momento", afirmou ele. "Meu currículo é maior que isso. Estou na Casa há 16 anos." Tanto Aldo quanto Nonô já foram sondados sobre qual comportamento teriam na presidência caso fosse protocolado um processo de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos responderam o mesmo: é preciso analisar o conteúdo do processo e verificar a consistência jurídica. A despeito das indefinições na Câmara, os parlamentares mais experientes apostam que o primeiro turno poderá ser disputado por pelo menos seis candidatos. O deputado Ciro Nogueira (PP-PI), afilhado político de Severino Cavalcanti, não dá sinais de desistência por enquanto. Mas é muito provável que parte expressiva do PP caminhe com Aldo no segundo turno, sobretudo porque o partido possui vários cargos no governo. O PTB mantém a candidatura de Luiz Antônio Fleury (SP). No segundo turno, a legenda se dividiria entre Nonô e Aldo. A tentativa de Ciro, Fleury e João Caldas (PL-AL) de unificar as três candidaturas não prosperou. Eles marcaram para hoje um novo encontro, mas a tendência é que Caldas desista e os demais se lancem no primeiro turno, separadamente.