Título: Petistas históricos deixam o partido e migram para o PSol
Autor: Thiago Vitale Jayme e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2005, Política, p. A8

A confirmação da vitória do Campo Majoritário no primeiro turno das eleições internas do PT e o fim do prazo para mudanças de partido, no dia 30, provocaram deserções na legenda. Na manhã de ontem, Plínio de Arruda Sampaio e Hélio Bicudo e os deputados federais Ivan Valente (SP) e Orlando Fantazzini (SP) anunciaram a saída da sigla. Além dos quatro, há a expectativa da desfiliação dos deputados Chico Alencar (RJ) e Maninha (DF). Os membros da tendência Ação Popular Socialista, de Valente e de Maninha, também deverão deixar o partido, segundo relato da deputada do Distrito Federal. A corrente apoiou a eleição de Plínio na eleição interna do partido. Dois deputados petistas já haviam se desligado da legenda: André Costa (RJ), seguido por João Alfredo (CE). O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), classificou a saída das lideranças como um "erro". "O PT tem uma enorme vitalidade, provada com a presença expressiva da militância na eleição interna. Além disso, dentro do PT, essa pessoas poderiam trabalhar para que o partido voltasse a trilhar seus caminhos". Fontana evitou falar em debandada. "Ouvia-se dizer que 15 ou 20 deputados sairiam do partido e não é isso que vejo acontecendo", afirmou. O PSol, partido recém-criado pela ex-petista e senadora Heloísa Helena (AL), será o destino de Valente, Fantazzini e Plínio de Arruda Sampaio, derrotado nas eleições internas da legenda. "O PT esgotou seu papel como instrumento de transformação da realidade brasileira. A manutenção da essência da política econômica do governo anterior frustrou boa parte dos militantes e apoiadores que esperavam mudanças", disseram Valente e Sampaio, em nota divulgada. A economia também foi apontada por Fantazzini como o principal motivo da saída da legenda. " A decisão de sair do PT é a não concordância com a flexibilização de sua política", disse por meio de nota, justificando sua mudança de sigla para "construir uma política próxima do trabalhador", com "transformação social". Ex-prefeito de São Paulo na gestão Marta Suplicy (2001-2004) e um dos fundadores do PT, o jurista Hélio Bicudo também deixará a legenda, mas não deve ir para o PSol. "A minha saída ainda não está concretizada, não tenho prazo, mas não continuarei no partido. A manutenção da gestão desestimula qualquer pessoa a continuar." Bicudo disse duvidar da vitória de Pont na disputa com Berzoini e mostra-se descrente com possíveis mudanças no partido. "Perdemos dois importantes nomes no partido, fruto de um descontentamento incipiente com o partido", reclama o deputado federal Walter Pinheiro (BA), que nega sua saída do PT. Mas a desfiliação não foi vista com bons olhos por muitos petistas. Plínio, depois da derrota nas urnas, recebeu críticas como a do segundo vice-presidente da legenda, Romênio Pereira: "Parece atitude de uma criança que só joga quando tem a bola". O secretário geral da legenda e candidato Ricardo Berzoini classificou a atitude de Plínio como antidemocrática. "Não atribuo a determinadas pessoas o monopólio de ser esquerda. Todo o PT é de esquerda, mesmo que com nuances e compreensões diferentes da realidade", disse. Além do PSol, o PSB deverá inchar. "Tínhamos 20 deputados, hoje temos 25. E acho que chegaremos a 30", disse o líder do partido na Câmara, Renato Casagrande (ES). O governador do Maranhão, José Reinaldo (PTB), vai se filiar ao partido na sexta-feira. Outra expectativa recai sobre o destino do vice-presidente da República, José Alencar, já desfiliado do PL. A tendência ainda é sua filiação ao PMDB, mas as conversas prosseguem. "Conversei com o vice-presidente há 15 dias. Estamos aguardando uma resposta dele", disse ontem o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O senador acredita no aumento de parlamentares pelo partido. "O PMDB está bem, tem uma boa imagem e está fora da crise.", afirmou. Na Câmara, o troca-troca já esquentou na última semana. Do dia 19 ao dia 23, nove parlamentares saíram de suas legendas anteriores. Três - Sérgio Miranda (ex-PCdoB-MG), Edmar Moreira (ex-PL-MG) e João Alfredo (ex-PT-CE) - ainda estão sem partido. Delfim Netto (SP) deixou o PP rumo ao PMDB. Edinho Montemor (SP) saiu do PL e filiou-se ao PSB. Milton Barbosa (BA) foi do PFL para o PSC. André Zacharow (PR) deixou o PSB rumo ao PMDB. O PP perdeu Ivan Ranzolin (SC) para o PFL. Curiosa foi a movimentação do deputado Osmânio Pereira (MG). No dia 7 de julho, ele deixou o PTB. No dia 22 de setembro, ele voltou ao partido.