Título: Governo descarta intervir no câmbio
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2005, Finanças, p. C1

Debate Cresce pressão de empresários por desvalorização; dólar fecha no menor preço desde 2001

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disseram ontem que não haverá intervenção do governo para desvalorizar o real e facilitar exportações. Meirelles afirma que o BC continuará comprando dólares para elevar as reservas internacionais, mas que as operações não têm como objetivo fixar a taxa de câmbio. Furlan disse que o câmbio não é a solução para aumentar a competitividade. Ontem, o dólar comercial caiu 0,62% e fechou cotado a R$ 2,2510, o menor preço desde 8 de maio de 2001. O aumento da pressão dos empresários por desvalorização cambial ficou explícito durante o seminário anual sobre economia brasileira organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, que ocorreu ontem no Hotel Mayflower em Washington. Várias perguntas de empresários e investidores referiram-se à dificuldade de exportar com o real forte. O presidente da Ford do Brasil, Antônio Maciel, disse numa palestra que "a atual taxa de câmbio certamente reduzirá as exportações de manufaturados". De janeiro a agosto, as exportações de manufaturados representaram 54,7% do total. Segundo Maciel, a alta de câmbio em torno de 25% é "uma pressão tremenda sobre a indústria automobilística, que trabalha com margem de 2 a 3%. Não temos margem para cortar e compensar o câmbio. Estou sendo franco, hoje estamos trabalhando com margem zero na exportação". Desde 2002, o total de exportação da indústria automobilística a partir do Brasil saltou de 424 mil veículos para cerca de 730 mil. Maciel diz que os números de exportação não caíram nos últimos meses porque a exportação de commodities, como soja e minério de ferro, continua competitiva e apoiada por alta de preços no exterior. Maciel disse que estava curioso para ouvir o que o ministro do Desenvolvimento diria sobre câmbio. E afirmou "não ter entendido" a resposta do presidente do BC, que fez a primeira palestra do seminário, a uma pergunta sobre taxa de câmbio. Meirelles respondeu a uma pergunta sobre a possibilidade de prejuízo às exportações com o real valorizado dizendo que "o único objetivo do Banco Central é a inflação. E no sistema de câmbio flutuante, a taxa é determinada pelo mercado". As compras de dólares no mercado não serão feitas para atingir uma determinada taxa de câmbio, disse o presidente do BC, e que tentar manipular o câmbio criaria desequilíbrios mais difíceis de corrigir mais tarde. Em conversa com jornalistas, Meirelles acrescentou que também não há meta para as reservas, que hoje estão em US$ 42 bilhões. Furlan deu uma resposta mais direta. "Eu ouço todos os dias reclamações sobre a taxa de câmbio. O câmbio não é solução para os problemas de competitividade. O Brasil tem espaço para melhorar a infra-estrutura e reduzir o custo de exportação. Isso será a contrapartida do câmbio mais valorizado". O ministro do Desenvolvimento afirma que o superávit comercial de US$ 40 bilhões neste ano está inserido num contexto de maior abertura da economia (o volume de comércio exterior deve chegar a cerca de 30% do PIB neste ano), e que há a possibilidade de repetir nos próximos anos superávits superiores a US$ 30 bilhões. Furlan disse que o governo quer melhorar o ambiente de negócios e que enviará na semana que vem ao Congresso legislação para limitar a 15 dias o tempo de abertura ou fechamento de uma empresa no país, unificando cadastros estaduais e federal. O Banco Mundial afirma que este prazo é hoje de 152 dias no Brasil, um dos maiores do mundo. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não mencionou a taxa de câmbio no discurso de ontem. Mas durante a reunião do Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, no fim de semana, disse que, "embora alguns não gostem, o câmbio flutuante flutua". E afirmou que, em momentos de valorização da moeda brasileira, há aumento de importações de bens de capital para investimentos em crescimento da produção.