Título: BC vai definir o capital mínimo para risco de mercado de novos ativos
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2005, Finanças, p. C2

O Banco Central (BC) vai divulgar até o final do ano as regras para dimensionar o capital necessário para cobrir o risco de mercado de operações com commodities, ações e cupom cambial. A providência faz parte da preparação do mercado para a adoção das novas regras de capital mínimo dos bancos, chamada de Basiléia 2. A informação foi dada pelo chefe do Departamento de Normas do Sistema Bancário (Denor) do BC, Amaro Luiz de Oliveira Gomes, ontem, em palestra na Associação Brasileira de Bancos (ABBC) sobre a implantação de Basiléia 2 no mercado brasileiro, prevista para ocorrer até 2011. Especialistas lembraram que o investimento em ações já é considerado no cálculo do risco de crédito e receiam que ele seja duplamente levado em conta para a apuração do capital mínimo. De toda forma, Gomes não espera que a novidade vá causar grande impacto. "Os bancos brasileiros estão sólidos", afirmou. O Acordo da Basiléia nasceu na década de 80 levando em conta o risco de crédito para a determinação do capital mínimo dos bancos. Seu nome é derivado da cidade suíça que sedia o Banco para Compensações Internacionais (BIS). Em 1996, passou a incluir também o risco de mercado que, no Brasil, já abrangia variações cambiais e juros prefixados. No ano passado, o acordo ganhou nova dimensão ao abranger riscos operacionais, recomendar o fortalecimento da supervisão, além de autorizar que os bancos mais avançados possam usar modelos internos de avaliação e não apenas o sistema padronizado da abordagem geral. No cronograma de adesão do Brasil, o BC planeja estar capacitado a validar os modelos internos dos bancos. Nos dois anos seguintes, o BC quer estar capacitado a validar modelos internos para risco de mercado; e, entre 2009 e 2010, também o operacional. Os bancos já estão discutindo no âmbito da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) uma forma de compartilhar o banco de dados para o risco operacional. O chefe do Denor afirmou que um dos principais desafios dos bancos centrais é entender as implicações totais da existência de mitigadores de risco. Como lembrou, o BC brasileiro já reconhece que operações como cessão de crédito, securitização, fundos de direito creditório (FDICs), certificados de crédito bancário (CCB) e liquidações de operações pelo líquido (netting) contribuem para mitigar o risco. Investidores institucionais como seguradoras e fundos de pensão assumem esse risco. "A questão é se esses investidores têm sistema adequado para administrar esse risco, disse Gomes. O Brasil optou pela adoção de uma abordagem padrão simplificada, mas não descarta que os bancos mais sofisticados se candidatem a modelos internos avançados de gestão de risco. "Basiléia 2 é considerada extremamente benéfica por incentivar a gestão de risco e a governança", disse Gomes.