Título: Com 42% do diretório, Campo deixa de ser majoritário no PT
Autor: Cristiane Agostine e Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2005, Política, p. A4

O Campo Majoritário, tendência dirigente do PT, continua com a preferência dos petistas em 24 dos 17 Estados e assegurou o maior número de cadeiras dentro do Diretório Nacional do partido. Mas o resultado da eleição interna, divulgado ontem, mostra que o PT mitigou sua maioria interna. Os 52% que o Campo detinha na composição do diretório diminuíram para 42% e para conseguir maioria, terá de compor com a esquerda. Os primeiros reflexos da mudança poderão ser sentidos já na disputa do segundo turno entre Ricardo Berzoini e Raul Pont, da Democracia Socialista. A apuração dos votos, finalizada ontem, mostra Pont à frente de Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, por 279 votos. Berzoini ficou com 42% e Pont, 14,7%. Pomar teve 14,6%, seguido de Plínio de Arruda Sampaio, com 13,4% e Maria do Rosário obteve 13,3%. Dos 81 dirigentes definidos com os votos da eleição, as chapas que elegeram Raul Pont e Valter Pomar terão direito de indicar dez pessoas, cada uma. "Com a nova composição do diretório nenhum campo terá a maioria garantida. terá que haver muita negociação", avalia o presidente do partido, Tarso Genro. O Movimento PT aumentou duas cadeiras e ficará com sete. Com atuação centrista, a tendência é flertada por Berzoini e também pela esquerda. Para declarar o voto em Raul Pont, o Movimento PT fez a exigência de que o candidato declare seu apoio ao governo Lula e à reeleição do presidente. Ricardo Berzoini aproveitou para alfinetar seu adversário: "Tem horas que parece que discurso mais contra o governo. Não é possível discurso ambíguo com o governo". A chapa de apoio de Plínio de Arruda Sampaio, desfiliado, terá 7 votos. A candidatura de Berzoini sai fortalecida com o resultado da eleição nos diretórios estaduais, já que sua chapa obteve vitória em 17 Estados. Já Pont articula o apoio da esquerda e contará com a Articulação de Esquerda, de Valter Pomar, que declarou apoio a Pont. A expectativa de participação dos petistas no segundo turno é menor. Com o voto de 315 mil petistas, o quórum de 38,4% superou as expectativas dos dirigentes e configura um crescimento de 38,3% em relação à primeira eleição direta do partido, em 2001. O resultado corresponde a 2,5 o quórum mínimo previsto pelo partido. Em 17 Estados, a participação dos eleitores foi acima da média de 40,7%, com o maior comparecimento no Maranhão (60,3%), seguido pelo Piauí (58,5%). A menor participação foi no Distrito Federal, com apenas 28,7%. O segundo turno será no dia 09 de setembro e os novos dirigentes tomarão posse uma semana depois da divulgação do resultado. Em seu discurso, durante a divulgação dos resultados em São Paulo, Pont defendeu a averiguação partidária das denúncias de envolvimento de petistas em esquemas de corrupção. "Seria um falso debate dividir os candidatos entre quem apóia a punição ou não. Mas tenho dado ênfase em todos os debates sobre as questões internas do partido. Precisamos de uma avaliação própria disso". Já Berzoini disse que tem de haver investigação, mas sem "execução sumária" dos citados. Além da eleição interna, o PT terá outra preocupação. Ontem, o ministro Gilmar Mendes, relator da prestação de contas do Partido dos Trabalhadores referente ao exercício 2003 no Tribunal Superior Eleitoral, intimou o partido a fornecer informações sobre a movimentação financeira e apresentar manifestação sobre o relato feito pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares. Entre os pontos questionados pela Justiça Eleitoral estão a ausência de comprovantes de transferências bancárias e indícios de que recursos do Fundo partidário foram utilizados para pagamento de empréstimo contraído junto ao Banco do Brasil.