Título: Empresário contesta versão de Mentor
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2005, Política, p. A6

O advogado Rogério Tolentino, sócio do empresário Marcos Valério de Souza, complicou ontem, em depoimento à CPI Mista dos Correios, a versão usada pelo deputado José Mentor (PT-SP) para salvar seu mandato no Conselho de Ética da Câmara. Tolentino disse que os serviços de advocacia prestados pelo escritório do parlamentar foram pagos pela empresa 2S Participações, que tem Valério e sua esposa como sócios. Mentor vinha afirmando que fora contratado e recebera os R$ 120 mil de honorários da empresa Rogério Lanza Tolentino & Associados. Os dois cheques, de R$ 60 mil cada um, foram pagos pela empresa de Valério. Tolentino apresentou documentos que provariam que um cheque foi emitido pela 2S Participações e o outro, assinado por ele, foi imediatamente ressarcido pela empresa de Valério. "Mentor se equivocou. Ele recebeu dinheiro da 2S. Eu mesmo levei os cheques ao escritório dele em São Paulo", afirmou. "O serviço foi prestado à 2S, que é de propriedade de Marcos Valério", disse. Tolentino afirmou ter se encontrado com Mentor em duas ocasiões nos últimos dez dias em seu escritório, em Belo Horizonte (MG) -- nos dias 12 e 17 de setembro. "Ele se assustou com o fato de que tinha caído um cheque de Marcos Valério na conta dele. Não tem fuga disso. O que ele falar além disso é mentira", disse. "Juridicamente, era preferível (a versão de que o dinheiro era do próprio Tolentino) para a defesa dele aqui no Congresso", analisou. Num depoimento nervoso e confuso, cheio frases incompletas, Tolentino admitiu ter feito um empréstimo de R$ 10 milhões no BMG a pedido de Marcos Valério. O financiamento, que teve como garantia um CDB da DNA Propaganda aplicado no próprio banco, foi repassado no mesmo dia, em três cheques, à empresa 2S Participações e à corretora Bônus Banval. Tolentino repassou R$ 6,463 milhões a Valério e transferiu outros R$ 3,452 milhões à corretora paulista. "Não sabia que o dinheiro iria para o PT. Nunca me envolvi com transferências", disse Tolentino, que advoga para a empresa de Valério desde 1988. Sem saber explicar o destino dos recursos, Tolentino disse à CPI ter sido informado pela contabilidade de Valério que a Bônus Banval repassou parte desse dinheiro para pessoas indicadas pelo então tesoureiro do PT, Delúbio Soares. "Mas não foi tudo transferido", disse. Segundo ele, Valério pediu que parte do dinheiro fosse devolvida à 2S. Porque os valores não seguiram diretamente para o PT, questionaram os parlamentares. Tolentino não tergiversou: "Não cabe a mim explicar a movimentação financeira de Marcos Valério. Mas o dinheiro pode ter retornado a ele porque era operador das contas do PT. O dinheiro foi para a Bônus a pedido de Delúbio". Tolentino entregou uma lista com sete empresas que teriam devolvido o dinheiro repassado pela Bônus Banval: Dínamo Distribuidora de Petróleo, Capcom, Lagat, Lord, Itafarma, Sigma e Pecuária Novo Horizonte. A Dínamo aparece como uma das maiores depositantes nas contas de Valério. O deputado Sílvio Torres (PSDB-SP) disse suspeitar que as sete empresas que repassaram dinheiro à 2S, via Bônus, como uma doação para alimentar o esquema do mensalão. Nenhuma das companhias que devolveram o dinheiro à Bônus tinha negócios para justificar os depósitos. Tolentino disse que os R$ 3,3 milhões transferidos à Bônus corresponderiam à devolução da parte do empréstimo de R$ 10 milhões que não foi utilizada no pagamento a pessoas indicadas pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.. (MZ)