Título: Sócio de Valério diz que queria 'agradar' governo
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2005, Política, p. A6
Houve tráfico de influência na compra do apartamento da ex-mulher do então ministro da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP), segundo o advogado Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério de Souza, acusado de operar o pagamento do mensalão no Congresso. Tolentino disse ontem à CPI Mista dos Correios que adquiriu o imóvel de Maria Ângela Saragoça a pedido do então presidente do Banco Popular do Brasil, Ivan Guimarães. "Ele me disse: ´Quer ajudar a gente, dar uma mãozinha? Isso é com você, veja sua conveniência´. O Ivan disse que assim eu estaria ajudando várias pessoas, inclusive o ministro José Dirceu", afirmou. "Eu sabia que o apartamento era da ex-mulher do José Dirceu. Então, comprei". O advogado disse que a transação significava um "agrado" ao então ministro. "Não sou nenhum santo. É claro que estava embutido quando me pediram para comprar o apartamento", disse. "Não sou nenhum bonzinho. Me pediram uma mãozinha e comprei". O sub-relator de movimentações financeiras da CPI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), classificou a transação como "um evidente tráfico de influência". O sócio de Valério, que informou ter pago R$ 115 mil pelo imóvel, disse que a conversa com Guimarães para a aquisição do apartamento da ex-mulher de Dirceu aconteceu no fim de 2003, na sobreloja da sede nacional do PT, em São Paulo. "Estávamos tomando um café e ele me fez a oferta dizendo que procurava um apartamento bem localizado, perto do PT, para sua mãe morar", afirmou. "Não precisava falar. Estava embutido na conversa. Estaria ajudando pessoas e a ex-mulher do José Dirceu". Tolentino disse que o apartamento foi, de fato, alugado por Guimarães, que fez uma reforma geral no imóvel para instalar sua mãe. Em depoimento à CPI, o ex-presidente do Banco Popular havia dito não saber que o apartamento era de Maria Ângela Saragoça. Disse também que a iniciativa tinha sido do próprio Tolentino. "O Ivan mentiu. Foi tudo concatenado e providenciado por ele. Falaram que era da ex-mulher do José Dirceu e fomos à imobiliária Camargo Dias, na Pompéia. E a Ângela não se surpreendeu", afirmou Tolentino. Ele admitiu também que era assíduo freqüentador da sede do PT, em São Paulo, e do escritório do partido em Brasília. "Conheci o Delúbio (Soares, ex-tesoureiro) e o Sílvio Pereira (ex-secretário-geral) lá", afirmou. O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) pedirá uma acareação entre Tolentino e Ivan Guimarães. "Ele pode ter servido de laranja para comprar um apartamento para um cliente das agências de Marcos Valério", acusou o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS). As agências de Valério atendiam às contas do Banco Popular, comandado por Guimarães. "Sua tese é palatável, mas preciso esclarecer que não paguei R$ 115 mil, lavrei a escritura para jogar dinheiro fora. Investi e posso vender a qualquer momento", disse Tolentino. Tolentino negou que tenha feito a transação a pedido de Valério. Lorenzoni afirmou que Guimarães pode ser processado por falso testemunho à CPI. Maria Ângela foi beneficiada pela rede de amizades de Marcos Valério em pelo menos outras duas ocasiões, segundo parlamentares da CPI. A pedido de Valério, foi contratada pelo Banco BMG para o cargo de psicóloga, segundo o presidente do banco, Ricardo Guimarães. Além disso, recebeu um empréstimo de R$ 42 mil do Banco Rural para pagar o financiamento de seu novo apartamento. Em nota, a ex-mulher de Dirceu afirmou ter sido usada por Valério para se aproximar de Dirceu.