Título: Bingos tenta votar convocação de Palocci
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2005, Política, p. A6

A sessão prevista para a manhã de hoje da CPI dos Bingos promete um embate entre governo e oposição por causa de três requerimentos. O presidente da comissão, Efraim Morais (PFL-PB), pretende colocar em votação os pedidos de convocação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do irmão dele, Adhemar Palocci, diretor da Eletronorte e acusado de favorecer uma seguradora em troca de financiamento de campanha eleitoral do PT em Goiás. Embora divida até mesmo senadores da oposição, a convocação do ministro ganhou força ontem, com o aparecimento de quatro cheques que confirmam, na avaliação da CPI, as acusações do advogado Rogério Buratti de que a empreiteira Leão Leão pagava propina a prefeituras do interior de São Paulo, para favorecimento em contratos de prestação de serviços de coleta de lixo. Também poderá ser votada uma acareação entre o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e o médico João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel. O médico diz ter ouvido do próprio Carvalho uma suposta confissão de que transportou pelo menos R$ 1,2 milhão, provenientes de um esquema de corrupção no município paulista, à sede do PT. "Não vou ser um presidente engavetador", afirmou Efraim Morais. Em desvantagem numérica na comissão, composta apenas por senadores, o governo tentará vencer a oposição no debate. "Vamos buscar a coerência. Senão, é perder no voto", conforma-se Tião Viana (PT-AC). "Esses requerimentos não têm nada a ver com o foco da CPI e servem mais a interesses partidários", disse Flávio Arns (PT-PR). O maior consenso é em torno da convocação de Adhemar Palocci, cuja ida à CPI dos Correios foi vetada por uma cautelosa articulação dos parlamentares governistas, que derrotaram há duas semanas um requerimento do PFL para tomar o depoimento dele. Na ocasião, o ministro Palocci teria dito a dois interlocutores petistas que preferia deixar o cargo se algum familiar tivesse que depor nas comissões. A oposição decidiu transferir a votação para a CPI dos Bingos, embora não haja conexão direta desse caso com o foco das investigações. A convocação do ministro ficou um pouco mais provável com o surgimento de quatro cheques emitidos mensalmente, entre 21 de fevereiro e 21 de maio de 2003, pela Leão Leão a um funcionário de primeiro escalão da prefeitura de Sertãozinho, município vizinho a Ribeirão Preto, onde Palocci foi prefeito até 2002. Os cheques foram passados a José Aprígio de Oliveira, vereador pelo PMDB e ex-secretário de governo na época. O município é governado pelo PSDB. "Está confirmado o mensalão de Sertãozinho. Existe uma suspeita sobre toda a região", afirmou o relator da CPI dos Bingos, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Rogério Buratti, ex-assessor de Palocci, revelou no mês passado que a Leão Leão pagava R$ 50 mil à prefeitura de Ribeirão e o dinheiro era repassado ao PT. Ele não apresentou provas e o ministro nega. Ontem, o ex-gerente financeiro Luciano Maglia afirmou à CPI que a empresa em que trabalhava em Ribeirão, a gráfica Vilimpress, fazia uma triangulação com a Leão Leão e ex-assessores de Palocci para superfaturar material de campanha, com o objetivo de justificar caixa dois, em 2000 e 2002. (DR)