Título: Alagoanos, principais oponentes têm origem na esquerda
Autor: Raymundo Costa, Maria Lúcia Delgado e Jaqueline Pa
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2005, Política, p. A7
Os dois candidatos que polarizam a disputa entre governo e oposição na Câmara - Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e José Thomaz Nonô (PFL-AL) - não estiveram em lados tão opostos assim no passado. Além de serem alagoanos, ambos militaram no movimento estudantil, seguiram uma trajetória de esquerda e foram perseguidos na ditadura. A história política do comunista e do pefelista já se cruzou mais de uma vez, com estranhas coincidências. Após ter sido preso em 1968, no congresso clandestino da União Nacional de Estudantes (UNE) em Ibiúna, interior de São Paulo, Nonô partiu para um exílio voluntário em Lisboa. Ao retornar para o Brasil, ingressou na carreira de promotor. Pouco tempo depois, era advogado do senador Teotônio Vilela, menestrel das Alagoas. Aldo Rebelo, mais menino, filho de vaqueiro, foi criado na fazenda do mesmo Teotônio Vilela. Nonô estudou Direito na Faculdade de Direito de Recife. Aldo optou pela mesma carreira, só que na Faculdade Federal de Alagoas. O pefelista foi presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito de Recife. Quase dez anos depois da prisão de Nonô, Aldo se elegia, em 1979, secretário-geral da UNE. Com apenas 24 anos, em 1980, foi eleito presidente da UNE. Os dois conseguiram os primeiros mandatos na Câmara na mesma época. Aldo se lançou em 1982 por São Paulo, pelo PMDB, uma vez que o Partido Comunista estava na ilegalidade. Nonô elegeu-se no mesmo ano, pelo PDS. A despeito do ranço da ditadura da legenda, Nonô defendeu as eleições diretas e ficou ao lado de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. Foto: Ruy Baron/Valor - 26/09/2005
Aldo: ex-presidente da UNE, foi criado na fazenda do mesmo Teotônio Vilela Aldo transformou-se no braço direito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao comunista, o presidente não poupa elogios. Nonô, que sempre se auto-classificou de PFL do B, votou em Lula em 2002. Mesmo na oposição, não seguiu as ordens partidárias e votou contra Fernando Collor de Mello em 1989. Agora, diz sem titubear que Lula não recebe mais seu voto. As histórias de Alagoas foram ficando para trás. Aldo foi líder do governo na Câmara, em 2003. José Thomaz Nonô foi o primeiro deputado da Casa a ocupar a chamada Liderança da Minoria, criada em 1998, mas até então nunca exercida. Aldo, um fiel escudeiro de Lula. Nonô, o mais ácido crítico do presidente. Enquanto os dois principais adversários à sucessão da Câmara se identificam com um passado de esquerda, outros candidatos refletem imagens exatamente opostas. Jair Bolsonaro (PP-RJ) representa os saudosos da ditadura. Suas atitudes retrógradas na Câmara sempre trazem à tona um passado que o Brasil não quer mais lembrar. Alceu Colares (PDT-RS), atuante na Assembléia Nacional Constituinte, hoje pouca expressão tem na esquerda e no Congresso. Foi um dos mais contundentes críticos da reforma da Previdência, amparado por um discurso que nem de longe encampa os questionamentos de uma esquerda contemporânea e moderna. Luiz Antônio Fleury Filho também deixou traços na história. Polêmicos. Eleito pelo PMDB governador de São Paulo, em 1990, tem na biografia um dos mais tristes episódios do país: a chacina de Carandiru. Formado em Direito pelas Faculdades Metropolitanas Unidas, em 1972, Fleury chegou a Secretário de Segurança Pública de Orestes Quércia e deu continuidade à gestão do pemedebista após ser eleito. Após a chacina no Presídio do Carandiru, que resultou em 111 mortos devido a uma ação policial coordenada pelo então coronel Ubiratan Guimarães , Fleury endossou a atitude dos militares. Como governador, considerou a ação legítima e correta. " Se tivesse no meu gabinete na época, teria autorizado e autorizaria hoje, mesmo sabendo das conseqüências", disse ele, sobre o caso. O coronel foi condenado a 632 anos de prisão em regime fechado. Hoje secretário nacional do PTB, Fleury parece ter deixado esse episódio de sua vida política enclausurado no passado. (RC e MLD)