Título: Butantan produzirá vacina contra gripe aviária para seres humanos
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2005, Empresas &, p. B7

Laboratórios

O Instituto Butantan, vinculado à Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, vai produzir a vacina para a versão humana da gripe aviária a partir de 2006. O órgão obteve na semana passada autorização da Organização Mundial de Saúde (OMS) para receber a cepa de um subtipo do vírus, o H5N1 (que causa a doença) e, a partir daí, desenvolver a vacina no Brasil. Isaías Raw, diretor da Divisão de Desenvolvimento Tecnológico do Instituto, aguarda a liberação de R$ 3 milhões solicitados ao governo para a instalação de um laboratório experimental. "A meta é iniciar o trabalho com a cepa no laboratório e produzir a vacina no segundo semestre de 2006", diz. A previsão é produzir em torno de 20 mil doses no próximo ano. Raw observa que o vírus da gripe aviária sofre diversas mutações ao longo do tempo, o que exige o desenvolvimento constante de vacinas nos dois hemisférios. Hoje há produção de vacinas para a doença na Europa, Estados Unidos, Canadá, China e Austrália. O Brasil será o primeiro país da América Latina a investir na produção das vacinas. A cepa virá do instituto inglês National Institute for Biological Standards and Technology (NIBCS) e a partir dela serão feitos ensaios em animais e pessoas para chegar a uma versão final da vacina. A expectativa do Instituto Butantan é que a produção efetiva da vacina seja feita na fábrica que está sendo construída em parceria com a filial da Aventis Pasteur (que pertence ao grupo Aventis) para a produção de vacinas contra diferentes vírus da gripe. O projeto tem investimento de R$ 50 milhões e será concluído em meados de 2006. Localizada no próprio Instituto, a fábrica terá capacidade para produzir 17 milhões de doses de vacinas por ano e irá atender à demanda do setor público. Hoje todas as vacinas contra gripe distribuídas pelo Ministério da Saúde são importadas. Só neste ano, o custo com a compra de 18,3 milhões de doses foi de R$ 104,6 milhões, segundo o Ministério da Saúde. Expedito Luna, diretor de Vigilância Epidemiológica do Ministério, está tentando realocar recursos mas os R$ 3 milhões serão liberados neste ano. Ele observa que existe um movimento internacional de preparação para o combate a uma possível pandemia de influenza. A intenção do governo é formar uma reserva de vacinas para imunizar parte da população, caso a doença chegue ao Brasil. Segundo Luna, não há motivo para uma campanha nacional de vacinação, já que nunca houve casos no país. Desde 2003, a gripe aviária levou 65 pessoas à morte na Ásia.