Título: Resultados Sólidos
Autor: Adriana Aguilar
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2005, Valor Especial / SEGUROS, p. F1

Com vendas de R$ 30,3 bilhões no primeiro semestre, 7,5% acima das do ano passado, mercado avança com produtos populares, reduz custos e atrai capital de fora

O mercado brasileiro de seguros vem obtendo números bem mais favoráveis em 2005 que os verificados no ano passado. As principais razões para esse bom desempenho, segundo as empresas, são a redução dos custos administrativos nas seguradoras, os aumentos dos ganhos financeiros por conta dos altos juros e a surpreendente melhoria na carteira de seguros de automóveis, que há pelo menos três anos só registrava prejuízos. "Os avanços na margem de automóveis neste ano devem-se ao aumento do preço dos seguros e não à expansão do número de segurados", explica o consultor independente do mercado de seguros Luiz Roberto Castiglione, que também é membro da Academia Nacional de Seguros e Previdência (ANSP) e do Instituto Roncarati de Seguros. Considerando todos os segmentos (previdência, produtos financeiros e capitalização), o volume de vendas no primeiro semestre atingiu R$ 30,3 bilhões, comparados a R$ 28,2 bilhões em igual período de 2004, demonstrando um crescimento nominal de 7,5%, de acordo com o estudo preparado pelo consultor Castiglione. O estudo ainda projeta que, somados, os segmentos do mercado deverão fechar o ano com um volume de vendas de R$ 62,6 bilhões, indicando um crescimento nominal de 7,7% e uma representatividade sobre o Produto Interno Bruto (PIB) estimada em 3,24%. Em 2004, esse percentual ficou em 3,28%. Em países desenvolvidos, como Estados Unidos, Inglaterra e França, o valor arrecadado com os seguros, produtos de capitalização e previdência privada aberta, costuma variar entre 10% e 12% do PIB, segundo os especialistas. "O Brasil tem muito a crescer na área de seguros", afirma o presidente da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg), João Elísio Ferraz de Campos. A perspectiva é positiva quando são analisados os números consolidados do setor. Entretanto, quando é levada em consideração cada uma de suas modalidades observa-se que os ganhos da carteira de seguros de automóveis, neste ano, têm compensado as perdas obtidas pelas seguradoras nos segmentos de transportes e seguro saúde. Produtos de previdência privada aberta também frustraram expectativas em relação ao volume de vendas esperado para o ano. A aquisição desse tipo de plano caiu bastante no primeiro semestre de 2005.

Forte potencial da modalidade de seguro massificado deve atrair novos "players" internacionais, corretoras ou seguradoras

Em compensação, a manutenção dos juros altos ajudou na performance de todo o setor. Castiglione explica que cerca de 50% das reservas técnicas do mercado estão aplicadas em ativos indexados ao CDI - a taxa de juros interbancária -, que, por sua vez, é atrelada à Selic. Hoje, as reservas técnicas somadas ao patrimônio líquido das companhias representam um volume de R$ 140 bilhões. As projeções de Castiglione indicam um crescimento mais expressivo nas vendas para o ano que vem, de 10,5% nominais. Excluindo produtos de capitalização, previdência e VGBL, o mercado poderá saltar de R$ 38 bilhões em 2005 para R$ 42 bilhões em 2006. Esse aumento ainda será reflexo do desempenho da carteira de automóveis e, principalmente, dos seguros populares - apólices de custo mais baixo que vêm registrando recorde de negócios (ver matéria na página 4). Esse tipo de produto, voltado às classes C e D, deve continuar apresentando forte desempenho de venda, segundo o consultor. Para Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Grupo Bradesco de Seguros e Previdência, o setor vive um momento de mudança de direção, rumo à massificação. Isso pede algumas condições fundamentais: poder aquisitivo, perfeito entendimento da sociedade sobre a função do seguro e melhor percepção das seguradoras a respeito das necessidades do consumidor. "Não tenho dúvidas que, nos próximos anos, a indústria de seguros será o segmento que registrará o maior crescimento na economia." A Sul América Seguros continuará com seus esforços voltados para o crescimento da modalidade veículos e massificados - seguros para cartão de crédito, danos elétricos da casa, quebra de vidros, roubo da casa. O diretor desta área na seguradora, Anderson Mello, explica que a expectativa é que a demanda por esse tipo de produto aumente. "Os massificados andam colados no crescimento econômico do país. À medida que a pessoa tem uma folga no orçamento, maior a tendência de procurar as seguradoras", afirma. Segundo o presidente da corretora Marsh Mc Lennan no Brasil e na América Latina, Thomaz Cabral de Menezes, o seguro massificado tornou-se uma prioridade da corretora no mundo e no Brasil. A liderança da Marsh está no setor industrial, no qual identifica riscos nos processos produtivos das grandes companhias para depois traçar estratégias de seguros para lidar com eles. No ano de 2004, a corretora recebeu R$ 1,6 bilhão em prêmios - valor pago pelos clientes que adquiriram seguros. Apenas 10% dessa quantia correspondiam a seguros de automóveis e outros 16% referiam-se aos massificados. "Nos próximos anos, além de reforçar nossa liderança no setor industrial, nossa intenção é crescer ainda mais nos massificados voltados para as classes C e D, oferecendo seguro desemprego, residencial, de automóvel, entre outros", diz Menezes. A Marsh trabalha com uma base potencial de 28 milhões de pessoas que poderiam adquirir seguros massificados. Esses indivíduos são clientes de empresas de cartão de crédito, de companhias de energia, de telefonia, financiadoras, lojas de varejo, supermercados e empresas corporativas. "Estamos conversando com essas companhias. Se fecharmos parceria com 10% delas na oferta de seguros, teremos 2,8 milhões de novos compradores", explica o presidente da corretora.

Apólices de automóveis de custos mais baixos, voltadas às classes C e D, têm registrado recordes de negócios

Para Menezes, o forte potencial da modalidade de seguro massificado no Brasil não deve passar incógnito. A tendência é que sejam atraídos novos "players" internacionais, corretoras ou seguradoras. Os grandes jogadores mundiais já se movimentaram pelo Brasil em 2005. A seguradora japonesa Tokio Marine comprou a Real Seguros e a espanhola Mapfre adquiriu a área seguradora da Nossa Caixa. Em julho, o terceiro negócio do mercado segurador brasileiro ficou por conta da HDI Seguros (ex-Hannover), que comprou a subsidiária de automóveis e ramos elementares do grupo inglês HSBC. Segundo o sócio da KPMG, José Rubens Alonso, responsável pelo atendimento na área de seguros, os grandes conglomerados financeiros estão reformulando sua participação no mercado brasileiro. Se, no passado, as instituições financeiras fecharam sociedade com as seguradoras internacionais que investiram no Brasil, agora, a situação é diferente. "Em vez de correr o risco do negócio como acionistas, os bancos querem apenas participar da intermediação da venda dos seguros, colocando à disposição das seguradoras internacionais a rede de agências espalhadas pelo país. Quanto mais produtos disponíveis aos clientes, maiores os lucros, sem riscos", diz Alonso. Na avaliação do sócio da KPMG, esse tipo de associação em que a instituição financeira oferece sua rede de agências para a distribuição dos produtos da empresa estrangeira deve aumentar no médio prazo, ou seja, nos próximos cinco a dez anos. "Desde que o crescimento econômico seja mantido, o Brasil tem chances de se tornar um pólo de atração de seguradoras internacionais", afirma Alonso. Outros fatores podem contribuir para essa realidade. A regulação do mercado de seguros no Brasil tem se alinhado às práticas de supervisão e fiscalização de outros países. Esse aperfeiçoamento das regras aumentaria a confiança do investidor estrangeiro. Na Superintendência de Seguros Privados (Susep), há um projeto para adequar o sistema brasileiro aos padrões instituídos pela International Association of Insurance Supervisors (IAIS). O IAIS é uma espécie de tratado internacional, com uma série de normas e padrões, seguidos pelos supervisores do mercado segurador de diferentes países, entre eles, o Brasil. As seguradoras locais e internacionais também vêem com bons olhos as intenções do presidente do Instituto de Resseguros do Brasil - IRB-Brasil Re -, Marcos Lisboa. A partir de meados deste ano, ele passou a anunciar publicamente o objetivo de concluir um projeto completo para abertura do mercado de resseguros brasileiro à concorrência local e internacional. Também está sendo planejado um modelo para separar as atuais funções do IRB e, assim, aumentar a transparência do setor. Hoje, o IRB detém o monopólio do resseguro no país. Ao mesmo tempo, é responsável pela regulação do seu próprio mercado, além de fazer políticas públicas.