Título: Principal missão será reconstruir pontes com PMDB
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2005, Política, p. A6
O deputado Aldo Rebelo, 49 anos, eleito pelo PCdoB paulista, mas alagoano de Viçosa, de onde preserva um forte sotaque, não esperava voltar para a Câmara dos Deputados no mês de julho. Depois de ter sobrevivido a diversas manobras do PT para tirá-lo do ministério que cuida da Coordenação Política do governo, Aldo sabia que teria que deixar o cargo, mas contava permanecer na Esplanada dos Ministérios, provavelmente na Pasta do Trabalho. Na última reforma ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o comunicou que não havia lugar para ele no ministério naquele instante e que precisava da sua ajuda no Congresso. Deixou a porta aberta para que Aldo voltasse ao ministério em outubro, época em que Lula imaginava que a crise política amainaria. O já ex-ministro descartou a possibilidade. No Congresso, procurou levar adiante um plano de ação que, fundamentalmente, tira poder do PT, na gestão da sobrevivência política do presidente. Em um primeiro momento, aproxima Lula de seus parceiros históricos, como o PSB e o PCdoB. Esta primeira etapa está sedimentada, na visão do comunista, com a sucessão de Severino Cavalcanti na Câmara. A segunda fase do plano será reaproximar Lula do PMDB para construir a candidatura da reeleição. Com apenas 16 anos no começo da guerrilha do Araguaia, movida pelo PCdoB, Aldo era colega de escola do hoje presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no início dos anos 70. Estreou na política em 1979, tomando a presidência da UNE e derrotando as lideranças, que, posteriormente, fundaram o PT. Pela militância, largou o curso de Direito na Universidade Federal de Alagoas. Enquanto esteve na coordenação política, Aldo deixou transparecer em todos os seus discursos e entrevistas sua fascinação pela política de alianças. Na sua visão, a história do Brasil é de uma nação vitoriosa, que conseguiu expulsar invasores estrangeiros, tornar-se independente, proclamar a república e sepultar o regime militar por meio de alianças entre forças contrárias, que em algum momento convergiram. Como coordenador político do governo no Planalto, não foi bem sucedido. No começo de sua gestão, defendeu de forma decidida a política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o que contribuiu para estremecer o relacionamento com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Em poucos meses, derrotas sérias ocorreram, como a rejeição no Senado da medida provisória que fixava o salário mínimo, em junho do ano passado. Aldo passou a queixar-se então da pouca disposição da equipe econômica em liberar recursos orçamentários. Teve uma vitória contra Dirceu ao ajudar a dinamitar a emenda constitucional que previa a reeleição das mesas diretoras da Câmara e do Senado, inviabilizando a recondução do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e do senador José Sarney (PMDB-AP). A rejeição da emenda abriu caminho para a vitória de Renan no Senado e garantiu a Aldo um aliado de todas as horas. Mas a derrota do PT para Severino Cavalcanti na Câmara fez com que todas as alas do partido passagem a exigir a entrega de sua cabeça. Aldo Rebelo foi o líder do governo na Câmara em 2003, ano em que Waldomiro Diniz fazia a ponte entre a Casa Civil e a base aliada no Congresso e em que teriam sido concedidos os empréstimos do publicitário Marcos Valério para o PT. Segundo o ex-deputado Roberto Jefferson, foi no final deste ano que teria nascido o esquema do mensalão na Câmara. Sucessor de Aldo na liderança, o deputado Miro Teixeira ficou no cargo apenas dois meses, sem esclarecer na época os motivos do abandono da função. Apesar da sua localização estratégica, o comunista ficou distante do escândalo. Não há registros, por exemplo, de elos entre ele, Valério e tesoureiros dos partidos. Sua atuação pública no episódio foi confirmar que ouviu de Jefferson uma denúncia sobre o suposto mensalão, em presença do presidente, e se oferecer como testemunha de defesa de José Dirceu, que enfrenta processo de cassação.