Título: Lula assume articulação para eleger Aldo
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2005, Política, p. A8

Crise Presidente estréia na liderança política e mobiliza ministros para garantir vitória de candidato do governo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem a última cartada para tentar recuperar sua base política no Congresso ao colocar o governo para trabalhar de forma clara e coordenada na campanha do candidato do PCdoB, deputado Aldo Rebelo, à presidência da Câmara. Com mais de dois anos e meio de atraso, a decisão de Lula de comandar o trabalho de seus ministros e de suas lideranças em prol de Aldo, tem o significado de uma estréia na coordenação política de seu governo. Lula havia ensaiado a articulação política após a substituição de Aldo por Jaques Wagner, na Coordenação Política, um mês após o início da crise. Pediu a alguns de seus ministros e líderes para acompanhar a crise mas nem de longe mostrou o empenho visto ontem, quando jogou tudo para ter um aliado na presidência da Câmara. O presidente comemorou ontem a vitória de Aldo com ministros e líderes, na residência oficial da Granja do Torto. Hoje ele recebe Rebelo em uma audiência oficial. Assim que foi concluída a apuração, o presidente deu uma declaração formal: "Quero reiterar o meu respeito pela decisão soberana dessa Casa. Estou seguro de que continuaremos a manter - o Legislativo e Executivo - um diálogo independente, construtivo e respeitoso, sempre voltado ao legítimo interesse da sociedade, e ao aperfeiçoamento das instituições democráticas brasileiras". Após o resultado, houve comemoração no Planalto, que não consegue uma vitória expressiva no Congresso desde o ano passado. O ministro Jaques Wagner chorou junto com assessores e declarou que a vitória "significa que a base levantou sua cabeça e resolveu reagir". Desde o início das denúncias contra Severino Cavalcanti, há um mês, Lula pediu que seus líderes e Wagner se aproximassem do presidente da Câmara para evitar que ele fizesse um acordo com a oposição que garantisse sua salvação em troca de uma licença para manter Thomaz Nonô na presidência da Casa por quatro meses. A partir da renúncia de Severino, Lula acompanhou de perto a escolha do candidato da base. Barrou a opção de Michel Temer por não considerá-lo confiável, já que na última reforma ministerial o presidente do PMDB fez pouco caso da oferta de ampliação de espaço da legenda no primeiro escalão. No PT, primeiro impediu que assinasse a representação contra Severino ao Conselho de Ética para mantê-lo como aliado. Segundo, pediu que o partido fechasse seu candidato em apenas um nome, já que havia quatro postulantes na bancada. Com o nome do líder do governo, Arlindo Chinaglia, escolhido, mas rejeitado pelos demais partidos da base, na quinta-feira, Lula pediu que o PT não adiasse a decisão da retirada da candidatura e avalizou o nome de Aldo. A partir de então, falou todos os dias com o candidato. Na segunda e terça-feira, passou o dia com Wagner em seu gabinete articulando apoios e resolvendo pendências. Com deserções anunciadas no PT, exigiu que os ministros do partido ajudassem a convencer os colegas a votar em Aldo. Requisitou a participação do sempre discreto Luiz Dulci, da Secretaria Geral, na empreitada. Exigiu que os ministros do PMDB, Saraiva Felipe e Hélio Costa, fizessem acordos com os deputados e atendessem seus pleitos. Pediu que o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, convencesse seus colegas do PL a declarar apoio a Aldo e garantiu que os recursos do ministério serão descontingenciados. Lula recebeu também o candidato Luiz Antônio Fleury (PTB) para garantir o apoio dele a Aldo no segundo turno, na tentativa de neutralizar a influência do ex-deputado Roberto Jefferson que pedia à bancada apoio a Thomaz Nonô. Ontem, Lula acompanhou a votação por meio de Wagner, já que se encontrava na Bahia. Em todas as outras disputas no Congresso, o presidente sempre havia se esquivado de entrar diretamente nas negociações. No primeiro ano delegou todas as negociações ao então líder do governo na Câmara, o próprio Aldo Rebelo, aos ex-ministros José Dirceu e Ricardo Berzoini, e ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Lula não participou da formação da base aliada e era apenas comunicado sobre os acordos. Com a concentração de poder em Dirceu, Lula colocou mais uma vez em prática seu modo de operar na política, com auxiliares em disputa abaixo dele, mantendo seu poder de tercius. Nomeou Aldo para a Coordenação Política, mas nunca lhe deu poder para negociar.