Título: Apesar de manter prestígio, ranking do Fórum recebe críticas de vários países
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2005, Especial, p. A12

Fórum Econômico Mundial é o nome de uma instituição privada suíça que organiza conferências no mundo inteiro. Na mais famosa, o Fórum de Davos, na estação de esqui suíça do mesmo nome, um empresário paga US$ 37 mil (inclui a taxa anual de membro, obrigatória) para ter acesso à programação. O relatório de competitividade global é outra boa fonte de renda: é vendido a US$ 115 o exemplar. É mais barato que os US$ 640 de relatório idêntico do ex-parceiro na iniciativa, a Escola de Administração de Lausanne . Ela continuou no ramo depois de ter sido trocada por uma parceria do Fórum com a Universidade de Harvard (EUA). Na concorrência no mercado de relatórios de competitividade global, o Fórum joga mais forte, beneficiando-se da percepção que seu nome transmite. Para o lançamento deste ano, conseguiu atrair mais de 60 diplomatas, a maioria embaixadores, que juntou com um grupo de jornalistas, em sua sede com vista para o lago de Genebra - o que pode ter sido má idéia, pelo rumo que a conversa tomou. Do menu constava "Pavé de Saint Pierre Cuit sur la Peau", um delicioso peixe. Mas o prato de resistência, o relatório, provocou mais questionamentos do que normalmente, sobre credibilidade e consistência da metodologia para classificar os países. Uma das primeiras indagações foi como o Fórum explicava ter recebido o presidente Lula por duas vezes em Davos, como líder do mundo em desenvolvimento, e agora o relatório apontar queda do país no índice pela piora na qualidade das instituições públicas. "Ah, quem diz isso são os empresários, nós não fazemos julgamento", lavou as mãos o economista-chefe do Fórum, Augusto Lopez-Claros. "Os empresários estão desapontados com o que está acontecendo no Brasil, com as manchetes adversas toda manhã", ponderou. Mais tarde, já dava palpites como economista da entidade. E elas contradiziam reportagem de ontem do principal jornal de Genebra, "Le Temps". Segundo o jornal, os investidores externos estão indiferentes aos escândalos que abalam o Brasil desde junho. Também o Brasil pode não ter caído oito posições, mas cinco, se considerar que três novos países à frente dele não estavam na classificação do ano passado. Alguns diplomatas defendiam seu país em qualquer circunstância. Mas seus argumentos tinham solidez. O embaixador da Espanha perguntou como era possível levar a sério um relatório que colocava a Espanha como número dois em taxas de juros (baixas), mas 91º em concessão de crédito. Os representantes de Itália e África do Sul admitiram as dificuldades econômicas de seus países, mas apontaram problemas no peso dos critérios. O embaixador da Grécia só deixou a sala quando todo mundo saiu, reclamando da percepção "errada" que o Fórum dava sobre seu "querido país". Só a embaixadora do Chile recebeu com enorme sorriso os elogios à economia chilena, que estaria com capacidade institucional e econômica à frente de certos países europeus. O relatório não faz menção à desigualdade de renda crescente. Um participante não escondia a surpresa de ver a competitividade econômica de Botswana bem melhor que a do Brasil. Depois de outras dúvidas, Lopez-Claros argumentou que a metodologia "é sofisticada e complexa", mas que a entidade procura aprimorá-la.