Título: Revisão do PIB deve fugir do calendário eleitoral
Autor: Vera Saavedra Durão e Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 29/09/2005, Especial, p. A12
A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pelo IBGE com base na nova metodologia que incorpora vários aperfeiçoamentos só deverá ocorrer no final do próximo ano, no momento do anúncio do PIB referente ao terceiro trimestre de 2006. Isso evitará que qualquer uma das partes envolvidas na disputa eleitoral sinta-se prejudicada, já que o PIB do período de julho a setembro só será de conhecimento público no dia 30 de novembro. Essa não é uma decisão oficial, mas é uma preocupação crescente dentro do IBGE, como apurou o Valor. O problema é que junto com os números referentes ao trimestre que estará sendo divulgado, será feita também uma correção da série histórica de 2000 a 2004. Caso a correção seja para cima, dará argumentos eleitorais ao candidato do governo, provavelmente o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E os oposicionistas levantaram a tese da manipulação de dados. A situação contrária, com queda nos números, criará uma saia-justa dentro do governo. Por tudo isso, a decisão quanto ao momento da primeira divulgação deverá ser mais política que técnica. Pelo andamento dos trabalhos técnicos, seria possível divulgar os números em 30 de agosto, junto com o PIB do primeiro semestre. Mas a disputa eleitoral estará no auge. O IBGE só não quer deixar o PIB pela nova metodologia para 2007. Isso atrasaria compromissos internacionais do instituto quanto à adoção de aperfeiçoamentos no cálculo do PIB. O padrão internacional sugere que a cada cinco anos sejam incorporadas melhorias no método e o IBGE fixou 2006 como o ano para começar a série qüinqüenal de mudanças. A lista das modificações para o próximo ano, que será oficialmente divulgada na próxima segunda-feira, é extensa e começa por uma nova fórmula de cálculo dos serviços da administração pública, que hoje correspondem a 16% do PIB (os pesos também serão revistos). Hoje, o IBGE mede apenas a educação pública (com base no total de matrículas na rede) e a saúde pública (baseada nas internações e no atendimento ambulatorial). O restante, como Justiça, Forças Armadas e outros, correspondentes a 70% do total, não são medidos. Eles são computados com base no aumento da população, considerando que todos têm acesso aos serviços. A grosso modo, o novo método tomará por base o aumento do pessoal ocupado no setor público, fazendo a medida a partir dos salários pagos. O economista Fernando Montero, da consultoria Convenção, não acredita que a mudança no cálculo da administração pública vá afetar significativamente o resultado do PIB. "Bem público não cresce a 5%, nem a 4% e talvez nem cresça 3% ao ano. Este impacto é incerto, mas é menos do que estão falando". Montero lembra que os números do PIB no segundo trimestre informaram que a administração pública cresceu 3,4% em relação ao mesmo período de 2004. "Foi o maior crescimento em 10 anos". Este aumento refletiu dados de internações hospitalares entregues pelo Ministério da Saúde. Montero acha provável que este número seja revisto para baixo, o que talvez afete o crescimento deste ano. Para se ter a idéia da volatilidade do cálculo desse serviço, após a divulgação do PIB do primeiro trimestre deste ano, Antônio Barros de Castro, diretor do BNDES, estranhou que a administração pública tenha crescido apenas 0,2% sobre igual período de 2004, pois seu crescimento médio é de 1,6% ao ano. Segundo o IBGE, ocorreram quedas em educação e em saúde, puxando para baixo o indicador do setor público.