Título: Em 2004, investimento direto cresce 2% no mundo, mas Brasil recebe 79% mais
Autor: Fernando Nakagawa e Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2005, Brasil, p. A2

Os emergentes conseguiram reverter a curva do investimento direto estrangeiro em 2004. Após três anos consecutivos de queda, o fluxo de recursos voltou a subir, liderado pelos países em desenvolvimento. Para o Brasil, o investimento subiu acima da média dos outros emergentes e o país ganhou cinco postos no ranking mundial do investimento direto, passando da 15ª posição para a 10ª. Relatório anual apresentado ontem Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês) revela que o investimento direto estrangeiro teve expansão de 2% ante 2003 e somou US$ 648 bilhões. O crescimento foi diretamente influenciado pela expansão de expansão de 40,8% no investimento destinado aos países emergentes, que somou US$ 268,1 bilhões. No sentido inverso, o fluxo para as nações desenvolvidas caiu 14%, para US$ 380 bilhões. Dessa forma, 41,4% de todo o investimento direto em 2004 teve como destino nações emergentes. Este ano, o fluxo de investimentos externos diretos globalmente pode crescer mais de 10% e continuará sendo a principal fonte de capital para os países em desenvolvimento. Só no primeiro semestre, as fusões e aquisições internacionais aumentaram cerca de 30% em valor e também cresceram investimentos em novas fábricas. André Costa Carvalho, diretor-técnico da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), responsável pela apresentação dos números no Brasil, avalia que a alta em 2004 pode determinar um novo rumo para os investimentos diretos, que permaneciam em queda desde 2000. "O aumento de US$ 15 bilhões entre 2003 e 2004 foi influenciado por uma forte expansão de quase US$ 80 bilhões no investimento nos emergentes", disse. Carvalho explicou que a queda do indicador de risco soberano desse grupo de países, observada nos últimos anos, colaborou para a maior atratividade da região. Também ganhou força, segundo ele, o movimento de reorganização das empresas transnacionais. "Essas companhias estão procurando mercados mais dinâmicos e economias que forneçam a oportunidade de ter ganho de escala, com menores custos. Por isso, olham para os emergentes", disse. Um terceiro motivo, segundo ele, é a reação econômica à alta do preço das commodities. "Os preços mais altos geram, em um segundo momento, um movimento de novos investimentos. Isso favoreceu países que fornecem petróleo, minério de ferro, soja, açúcar e suco de laranja, por exemplo", citou, ao comentar que os principais fornecedores dessas matérias-primas são emergentes. Na esteira da recuperação do investimento entre os emergentes, o resultado do Brasil foi muito acima da média. Em 2004, o volume destinado ao país saltou 79% ante 2003, e ficou em US$ 18,166 bilhões - atraindo 27% do que foi investido na América Latina. O Brasil é o terceiro melhor posicionado entre os emergentes, ficando atrás apenas da China e Hong Kong. Na listagem, os Estados Unidos lideram com US$ 95,8 bilhões de investimento direto, seguido pelo Reino Unido, com US$ 78,3 bilhões, e pela China - o emergente mais bem colocado da lista - com US$ 60,6 bilhões. O diretor-técnico da Sobeet explica que o aumento do investimento no Brasil foi influenciado diretamente por grandes operações comerciais que aconteceram em 2004. A associação entre a cervejaria belga Interbrew e a AmBev, a compra de participação acionária da francesa Casino no Grupo Pão de Açúcar e a compra da Embratel pela mexicana Telmex inflaram os números do ano passado, explica Carvalho. (do Valor Online)