Título: Bevilaqua desmente troca de meta
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2005, Brasil, p. A4

O diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, desfez ontem a confusão, criada nos últimos dias, de que a autoridade monetária estaria perseguindo meta de 4,5% neste ano, em vez do objetivo de 5,1% constante em todos os documentos oficiais. "Se tivesse mudado o nosso objetivo, com certeza a mudança estaria comunicada na ata do Copom", afirmou Bevilaqua. "Essa é uma discussão que não faz muito sentido. Nunca houve nenhuma mudança no objetivo de 5,1%." O ruído sobre a meta surgiu em apresentação feita em Washington pelo presidente do BC, Henrique Meirelles. Ele exibiu um gráfico em que estava assinalada meta de 4,5% para 2005, em vez de 5,1%. Na palestra, Meirelles também disse que Bevilaqua gosta de repetir que o centro da meta é apenas o centro, e que a inflação pode gravitar tanto acima quanto abaixo dele. Segundo Bevilaqua, o gráfico exibido em Washington faz parte de uma apresentação feita por ele próprio em abril passado, que, na época, não causou maior espanto. Segundo o diretor do BC, quem quiser saber a verdadeiro objetivo perseguido pela autoridade monetária deve consultar os documentos oficiais do Copom - em particular a ata de setembro de 2004, que fixou o objetivo de 5,1% para o ano. Em virtude de a inflação ter superado em muito o centro da meta em 2004 (chegando a 7,6%), o BC anunciou que iria perseguir um objetivo de 5,1% em 2005. Mas a meta de 4,5%, fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), não foi revogada. Bevilaqua disse que todas as decisões tomadas pelo BC visaram atingir 5,1%, e não seria razoável supor que, no último trimestre de 2005, o BC tivesse mudado o comportamento para atingir um alvo de 4,5%. "Há defasagens entre as decisões de política monetária e seus efeitos na inflação", disse Bevilaqua. "As decisões que visavam a inflação de 5,1% neste ano foram tomadas no passado. As decisões tomadas neste momento levam em conta as metas de inflação de 2006 e 2007." Sobre a observação de que a inflação poderia ficar abaixo do centro da meta, Bevilaqua esclareceu que Meirelles procurou observar em Washington que, no Brasil, é comum a confusão entre centro da meta e piso. Isso ocorre, disse, talvez porque no Brasil choques inesperados fizeram a inflação ficar sistematicamente acima da meta. "É normal observar a inflação oscilando em torno do centro da meta, para cima e para baixo", diz Bevilaqua. Segundo ele, o BC age com as informações disponíveis para fazer a inflação atingir o centro da meta, e não consegue evitar que choques não antecipados façam a inflação ficar acima ou abaixo do centro da meta de inflação. (AR)