Título: Analistas já projetam cortes maiores
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2005, Brasil, p. A4
O tom do relatório de inflação foi mais uma vez cauteloso, mas a maior parte dos analistas viu no documento motivos para apostar que os juros vão cair mais rapidamente nos próximos meses. A expectativa dominante é de que os cortes mensais da Selic sejam de 0,5 ponto percentual daqui para a frente, e não mais de 0,25 ponto, como ocorreu na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A redução das previsões de inflação para 2005 e 2006 e o maior conforto do Banco Central (BC) em relação ao ritmo de expansão da economia é que justificam a crença numa queda mais forte da Selic, atualmente em 19,5% ao ano. O economista-chefe da LCA Consultores, Luís Suzigan, avalia que o relatório traçou um cenário benigno para a inflação corrente e futura, além de pintar um quadro mais tranqüilo para a atividade econômica. Para ele, a revisão para baixo das expectativas de inflação para este ano e o próximo é condizente com a realidade de um câmbio valorizado, que se traduz num alívio sobre os preços livres no curto prazo e também sobre os preços administrados no ano que vem. O dólar barato, lembra ele, tem contribuído para o recuo dos IGPs, que corrigem boa parte das tarifas públicas, como as de telefonia e energia elétrica. Suzigan diz que o relatório o deixa mais confortável para prever cortes de 0,5 ponto da Selic em outubro e novembro, além de um de 0,75 ponto em dezembro. Para ele, o fato de o BC prever uma inflação de 5% para este ano, mesmo depois do reajuste dos combustíveis, mostra que a política monetária foi longe demais. Suzigan avalia que, sem esse aumento de preços, o IPCA poderia ficar em 4,7% em 2005, bem abaixo dos 5,1% perseguidos oficialmente. Como o BC, ele projeta uma inflação de 5% neste ano. Para o ano que vem, prevê um IPCA de 4,9%, número que tende a ser revisado para baixo, devido ao comportamento do câmbio. O economista-chefe do ABN AMRO, Mário Mesquita, vê espaço para cortes um pouco mais agressivos da Selic daqui para a frente. Segundo ele, se não acelerar o ritmo de redução dos juros, o BC tenderia a chegar no fim do ano com uma previsão de inflação muito abaixo do centro da meta do ano que vem, de 4,5%. Se mantidos os juros em 19,5% e o câmbio em R$ 2,35, o modelo da instituição já aponta um IPCA de 3,5% em 2006. Como o BC mira o centro da meta e não abaixo, não faria sentido reduzir a Selic em 0,25 ponto ao mês. Mesquita lembra, porém, que o relatório não compromete a instituição com cortes de 0,5 ponto, embora indique que reduções mais agressivas são possíveis. O economista Maurício Oreng, do Unibanco, também aposta em reduções de 0,5 ponto nos próximos meses. A distância cada vez maior entre e as previsões oficiais para a inflação de 2006 e a meta de 4,5% sugerem que há espaço para cortes mais fortes, avalia Oreng em relatório, acrescentando que indicadores importantes para a trajetória dos preços se comportam de maneira favorável, como câmbio, atividade econômica e IGPs. Para o economista-chefe do Credit Suisse First Boston (CSFB), Nílson Teixeira, o relatório sugere que os juros vão continuar a cair gradualmente, mas não é possível concluir se o ritmo de queda da Selic vai aumentar. Para ele, tanto uma redução de 0,25 como de 0,5 ponto podem ser consideradas graduais. Teixeira diz que o documento divulgado ontem e as atas do Copom indicam apenas que o afrouxamento monetário não vai ser abrupto. Ele avalia que os juros vão cair 0,5 ponto em cada uma das três reuniões do Copom, devido ao comportamento de fatores como o câmbio, os preços e as expectativas de inflação, mas não devido às conclusões do relatório divulgado ontem. O economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, do grupo de conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fez uma leitura mais conservadora do relatório e da ata do Copom, acreditando que o BC vai manter o ritmo de 0,25 ponto ao mês em outubro e novembro. Um corte de 0,5 ponto ocorreria apenas em dezembro. Para ele, o BC pode tentar fazer a inflação convergir para um nível inferior aos 5,1%, de forma a reduzir ainda mais a inércia para o ano que vem, consolidando os ganhos no front inflacionário.