Título: Relatório do BC mostra que há espaço para reduzir taxa de juro
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 30/09/2005, Brasil, p. A4
Conjuntura Autoridade monetária diminui projeção para 2005 e espera inflação de 5,0%, abaixo da meta
As projeções do relatório trimestral de inflação do Banco Central de setembro, divulgado ontem, mostram que há razoável espaço para cortes na taxa básica de juros, ainda que não exatamente na trajetória esperada pelo mercado financeiro. No documento, são feitos dois exercícios de projeções sobre a trajetória de inflação em 2005 e 2006. Num deles - chamado cenário de referência- , é assumida a hipótese de que, durante esse período, os juros básicos permanecerão inalterados em 19,5% ao ano, e a taxa de câmbio, imóvel em R$ 2,35. Tomando como base essas premissas, a inflação fecharia em 5% em 2005 (abaixo da meta de 5,1% para o ano) e em 3,5% em 2006 (bem abaixo do alvo, de 4,5%). Uma conclusão possível desse exercício é que o Comitê de Política Monetária (Copom) tem razoável espaço para cortar os juros básicos nos próximos meses. A autoridade monetária pouco ou nada pode fazer para alterar a trajetória da inflação de 2005, que está praticamente dada- as decisões sobre juros levam pelo menos seis meses para atingir a inflação pelo canal da demanda-, mas ainda há tempo para impedir que o índice caia muito abaixo do alvo em 2006 . Por essa projeção, porém, não é possível dizer o quanto exatamente o BC poderia cortar os juros. Uma idéia aproximada, entretanto, pode ser tirada a partir da projeção de inflação com parâmetros do mercado financeiro. O BC calcula em quanto ficaria a inflação em 2005 e 2006, caso ocorresse a trajetória de câmbio e juros esperada pelo mercado financeiro - taxa Selic média de 18,5% e 15,88%, respectivamente, nos últimos trimestres de 2005 e de 2006, e um câmbio em R$ 2,42 e em R$ 2,60, nos mesmos períodos. Todos esses fatores considerados, a inflação fecharia 2005 em 5,2% e, em 2006, ficaria em 4,8% - portanto, acima das metas. A conclusão é que há espaço para o corte de juros, mas não exatamente no cenário traçado pelo mercado financeiro. Houve significativa melhora em relação às projeções de inflação feitas pelo BC no relatório de inflação anterior, de junho. Por aquele documento, o índice de preços previsto para 2005 no cenário de referência era de 5,8%; para 2006, de 3,7%. A queda pronunciada na inflação prevista para 2005 se deve a índices de inflação mais favoráveis do que o antecipado no período de junho a agosto. Ajudou, em particular, a queda dos preços dos alimentos. A projeção de inflação para 2006 recuou devido à queda na taxa de câmbio no último trimestre (de R$ 2,47 para R$ 2,35) e à melhora da perspectiva para o reajuste de preços administrados no próximo ano (de 5,7% para 5,3%). O Copom assinala que, no cenário interno, reduziram-se os riscos de a inflação se distanciar da trajetória projetada. "A economia está crescendo em ritmo condizente com a ampliação da capacidade produtiva, reduzindo as perspectivas de que se verifique, ao menos no curto prazo, aumentos de preços por pressões de demanda", diz o relatório. "A menor intensidade de atividade econômica neste ano, acompanhada da recuperação dos investimentos, abre a perspectiva de um crescimento mais harmônico entre oferta e demanda." Outra melhora significativa, aponta o documento, foi a maior convergência das expectativas de inflação do mercado para as metas. No cenário externo, porém, houve "piora relativa", diz o relatório. "Aprofundaram-se as preocupações quanto ao recrudescimento da escalada do preço internacional do petróleo", diz. Um fato positivo a ponderar, diz o documento, é que os preços dos combustíveis já foram reajustados neste ano. A projeção para o crescimento do PIB foi mantida nos mesmos 3,4% do relatório anterior. "A economia seguiu tendência de crescimento no segundo trimestre, ao contrário das análises bastante difundidas de que perderia dinamismo, tanto pelo recrudescimento da inflação quanto pela política monetária", disse o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua. Do ponto de vista da oferta, o BC revisou para cima o crescimento previsto para a indústria, de 3,7% para 4,4%; no caso dos serviços, caiu de 2,7% para 2,4%; e agropecuária, recua de 4% para 3,6%.